O impacto da Covid-19 no custo terapêutico da Hipertensão Arterial

Abstract

Introdução: A Hipertensão Arterial (HTA) é uma patologia com uma prevalência de 36% em Portugal e constitui o fator de risco mais preponderante para o desenvolvimento de doença cardiovascular. O seu seguimento decorre sobretudo nos Cuidados de Saúde Primários (CSP), tendo como objetivo o controlo adequado da doença. No dia 18 de março de 2020, face ao panorama epidemiológico em Portugal, foi decretado o estado de emergência por surto de Coronavirus Disease 2019 (COVID-19), provocando alterações na gestão da atividade dos CSP. O corrente estudo avaliou o impacto que a pandemia associada à COVID-19 teve no custo do tratamento da HTA, percebendo as diferenças entre os doentes com ou sem controlo e as dissemelhanças entre regiões. Métodos: Estudo observacional realizado pela coleta de dados de dois indicadores do Bilhete de Identidade dos Cuidados de Saúde Primários: Indicador 352 (Ind352) - Custo com a terapêutica do doente com Hipertensão Arterial; Indicador 353 (Ind 353) - Custo com a terapêutica do doente com Hipertensão Arterial controlada. Estes dados foram recolhidos para os anos de 2019, 2020 e 2021 no mês de dezembro em indicador flutuante, para uma amostra representativa dos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACeS) e de cada Administração Regional de Saúde (ARS). Realizou-se estatística descritiva e inferencial, e em função da distribuição anormal das dinâmicas de crescimento dos dados, efetuou-se estatística não paramétrica: teste U-Mann Whitney e teste Krukal-Wallis. Resultados: O custo da terapêutica da HTA foi mais elevado nos anos pandémicos, sendo a dinâmica de crescimento mais elevada na situação de controlo. Por ACeS, no período 2019/2020, Ind352/Δ= 0,009 ± 0,039 vs Ind353/Δ= 0,071 ± 0,037, com p˂0,001; entre 2019/2021, Ind352/Δ= 0,028 ± 0,043 vs Ind353/Δ= 0,073 ± 0,040, com p˂0,001. Nos doentes com HTA o crescimento do custo foi maior entre 2019/2021 (Ind352/Δ= 0,031, nível nacional), diferindo dos doentes com HTA controlada em que foi maior em 2019/2020 (Ind353/Δ= 0,078, nível nacional). No global dos custos dos doentes com HTA (Ind352) houve mais heterogeneidade, verificando-se assimetrias regionais significativas nas dinâmicas de crescimento entre 2019/2021, sendo mais elevado no Norte (Ind352/Δ= 0,049). Opondo-se, com decréscimo do custo, esteve o Algarve (Ind352/Δ= -0,027). Discussão: No decorrer da pandemia, o controlo da HTA teve um custo mais elevado, podendo ser as razões para tal a diminuição das consultas de seguimento presenciais nos CSP, o aumento do número de reajustes terapêuticos e maior prescrição médica por medo de inércia, o aumento do custo dos fármacos antihipertensores e a maior preocupação dos doentes em manter o controlo da HTA por melhor prognóstico na infeção pelo SARS-CoV-2. As diferenças regionais podem ser explicadas pelo contexto epidemiológico, especificidades locais de organização dos serviços de saúde e diferenças no índice de envelhecimento regional. Conclusão: O impacto da COVID-19 gerou um aumento do custo da terapêutica da HTA, mais significativamente para a HTA controlada. As assimetrias regionais devem ser alvo de atenção pelas entidades competentes para a sua modificação. Urge a necessidade de criar medidas e políticas para os CSP que possam ser acionados em contexto de emergência nacional.

Introduction: Arterial Hypertension (AHT) is a pathology with a prevalence of 36% in Portugal and constitutes the most preponderant risk factor for the development of cardiovascular disease. Its follow-up takes place mainly in Primary Health Care with the objective of adequate control of the disease. On March 18th of 2020, facing the epidemiological situation in Portugal, a state of emergency was declared due the outbreak of Coronavirus Disease 2019 (COVID-19), causing changes in the management of Primary Health Care activities. The aim of this study was to evaluate the impact that COVID-19 caused on the cost of hypertension treatment, understanding the differences between patients with or without control and the dissimilarities between regions. Methods: Observational study conducted through the collection data from two indicators on the “Bilhete de Identidade dos Cuidados de Saúde Primários”: Indicator 352 (Ind352)- Cost of treatment for patients with Arterial Hypertension; Indicator 353 (Ind 353)- Cost of treatment for patients with controlled Arterial Hypertension. These data were collected for the years 2019, 2020 and 2021 in December using a floating indicator, for a representative sample of “Agrupamentos de Centros Saúde” (ACeS) and each “Administração Regional de Saúde” (ARS). Descriptive and inferential statistics was performed, and due to the abnormal distribution of data growth dynamics, non-parametric statistics were performed: U-Mann Whitney test and Kruskal-Wallis test. Results: The cost of hypertension treatment was higher in the pandemic years, with the highest growth dynamics in the control situation. By ACeS, in the period of 2019/2020, Ind352/Δ= 0,009 ± 0,039 vs Ind353/Δ= 0,071 ± 0,037, with p˂0,001; between 2019/2021, Ind352/Δ= 0,028 ± 0,043 vs Ind353/Δ= 0,073 ± 0,040, with p˂0,001. In patients with hypertension, cost growth was higher between 2019/2021 (Ind352/Δ= 0,031, national level); differing from patients with controlled hypertension which was higher in 2019/2020 (Ind353/Δ= 0,078, national level). The overall costs of patients with hypertension (Ind 352) was more heterogeneous, with significant regional asymmetries in the growth dynamics between 2019/2021, being higher in the Norte (Ind352/Δ= 0,049). As opposed, with the decrease in the cost, was the Algarve (Ind352/Δ= -0,027). Discussion: During the pandemic, hypertension control had a higher cost, and the reasons for that may be the decrease in face to face appointments at Primary Health Care, the increase on number of therapeutic readjustments and greater medical prescription due to fear of inertia, the increase in cost of antihypertensive drugs and the greater concern of patients to maintain hypertension control due to a better prognosis of SARS-CoV-2 infection. Regional differences can be explained by the epidemiological context, local specificities on the organization of health services and differences regional aging index. Conclusion: The impact of COVID-19 created an increase in cost of hypertension treatment, more significantly for controlled hypertension. Regional asymmetries should be the attention target by the competent authorities for their modification. There is an urgent need to create measures and policies for Primary Health Care that can be activated on the context of a national emergency.