Manifestações clínicas cutâneas em doentes de raça negra

Abstract

Contexto: Atualmente vivemos num mundo cada vez mais globalizado, o que significa que os profissionais de saúde lidam com doentes de diferentes contextos étnicos e sociais. Contudo, a literatura e, por conseguinte, a educação médica não acompanham essa mesma globalização, uma vez que os estudos sobre as dermatoses na população negra são insuficientes. Objetivos: Elaborar uma revisão narrativa da literatura recente sobre manifestações clínicas cutâneas em doentes de raça negra. Metodologia: Acedemos à base de dados Pubmed, construindo equações de pesquisa intersetando o termo MeSH “Blacks” e termos livres para alargar a pesquisa como “Cutaneous signs” ou “Clinical features” e “Dark skin” ou “Skin of color”. Restringimos esta pesquisa às línguas portuguesa e inglesa e ao período temporal de 2000 a 2021. Complementámos esta pesquisa com artigos relevantes do arquivo da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia e com a revisão de capítulos de livros. Discussão: As particularidades estruturais da pele escura traduzem-se em algumas diferenças expressivas no que toca à apresentação clínica de determinadas dermatoses em relação à pele clara. Para outras patologias cutâneas as diferenças prendem-se como prognóstico, frequentemente pior em doentes de raça negra pelas mais variadas razões. A abordagem terapêutica base pode ser semelhante em doentes negros e caucasianos com algumas especificidades a ter em conta para os primeiros. Conclusão: O aumento do reportório relativo às manifestações clínicas cutâneas em doentes de raça negra é imprescindível para a prática clínica atual. Para isso é necessário consolidar o conhecimento sobre a estrutura da pele negra, práticas socioculturais desta população, alterações fisiológicas e epidemiologia através de estudos robustos. As diferenças nos padrões das lesões cutâneas entre os diferentes fototipos são evidentes. Como tal, a descrição detalhada das mesmas e respetiva divulgação pela comunidade científica influencia diretamente o diagnóstico das patologias cutâneas neste doentes. O correto diagnóstico conduz a tratamentos adequados e, em última análise, à otimização dos cuidados de saúde a estes doentes.

Background: Nowadays we live in a more global world, which means that health care professionals assist patients from different ethnical and social backgrounds. However, literature and, therefore, medical education are not keeping up with this globalization, since studies about cutaneous diseases in black population are insufficient. Aim: To review the recent literature concerning cutaneous clinical features in dark-skinned patients. Methods: We accessed the Pubmed database with search equations intersecting the MeSH term “Blacks” and free terms to expand the search such as “Cutaneous signs” or “Clinical features” and “Dark skin” or “Skin of color”. We constrained the search to the portuguese and english languages and the time period between 2000 and 2020. We have complemented this search with relevant articles from the Journal of the Portuguese Society of Dermatology and Venereology and a review of book chapters. Discussion: The structural characteristics of dark skin translate in some significant differences concerning clinical presentation of certain dermatological disorders compared to light skin. For other skin conditions the differences are about prognosis, usually poorer in black patients for various reasons. The therapeutic approach may be similar to black and white patients with some unique points regarding the former. Conclusion: The expansion of the repertoire related to cutaneous clinical features in dark-skinned patients is vital to modern day clinical practice. And for that, it is required a reinforcement of the knowledge about black skin structure, social and cultural practices of this population, physiological variations and epidemiology through robust studies. The differences in clinical cutaneous patterns between the phototypes are evident. Consequently, a detailed description of these lesions and its report among the scientific community directly impacts the diagnosis of skin conditions in these patients. A correct diagnosis leads to proper treatment and ultimately an healthcare optimization for these patients.