Música e funções executivas: Estudo com o BRIEF2

Abstract

O funcionamento executivo, devido à sua complexidade, não tem, ainda, a sua conceção completamente operacionalizada, no entanto, já está estabelecida a sua importância para o funcionamento do ser humano. Assim, ao longo dos últimos anos, a investigação tem estabelecido que é possível trabalhar as funções executivas e tem sugerido algumas formas de o fazer, sendo que a prática musical, ainda que com algumas inconsistências na bibliografia disponível, tem surgido como um dos instrumentos potenciadores do funcionamento executivo.Deste modo, o objetivo do presente estudo passa por investigar a associação entre a prática musical regular e o funcionamento executivo das crianças com 10, 11 e 12 anos, quando comparadas com um grupo de controlo sem prática musical. A amostra global desta investigação é composta por 121 crianças, distribuídas em dois grupos [grupo com prática musical (n = 61); grupo de controlo (n = 60)] equivalentes em termos de idade e género. As funções executivas foram avaliadas com recurso à versão portuguesa do Behavior Rating Inventory of Executive Function, Second Edition (BRIEF2) (versão para Pais e versão de Autoavaliação), tendo sido, também, aplicado um Questionário sobre as Aulas de Música aos elementos do grupo com prática musical. Os resultados desta investigação permitiram perceber que, globalmente, o grupo de controlo apresentou resultados inferiores a os seus pares que frequentavam aulas de música. Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas nas escalas de Inibição, Automonitorização e Planificação na versão para Pais, bem como no Índice de Regulação Comportamental (IRC) e no Compósito Executivo Global (CEG). Na versão de Autoavaliação, foram consideradas significativas as diferenças presentes nas escalas de Automonitorização, Completamento de Tarefas e Planificação, bem como no CEG e nos Índices de Regulação Emocional (IRE) e Cognitiva (IRCog). Foi, ainda, possível identificar uma associação entre o interesse despertado pela música e o desenvolvimento das funções executivas dos jovens músicos.Em suma, é possível referir que foi encontrada uma associação positiva entre a prática musical e o funcionamento executivo na faixa etária estudada.

The concept of executive functioning, due to its complexity, has not been fully operationalized yet, however, its importance for human functioning is already established. Thus, over the past years, research has shown that it is possible to promote executive functions and some ways to do so have been suggested – musical practice being one of them. Although musical practice has emerged as one of the potentially enhancing instruments for executive functioning, some inconsistencies can still be found in the available literature.Therefore, the aim of the present study is to investigate the association between regular musical practice and executive functioning in children aged 10 to 12, in comparison with a control group without musical practice. The overall sample of this research consists of 121 children, divided into two groups [group with musical practice (n = 61); control group (n = 60)], equivalent in terms of age and gender. Executive functions were assessed using the Portuguese version of the Behavior Rating Inventory of Executive Function, Second Edition (BRIEF2) (Parent Form and Self-Report Form), and the participants with musical practice were also administered a Questionnaire about Music Lessons.The results of this investigation revealed that, overall, the control group showed inferior scores than their peers who attended music lessons. Statistically significant differences were found in the Inhibition, Self-Monitoring, and Plan/Organize scales in the Parent Form, as well as in the Behavioral Regulation Index (BRI) and the Global Executive Composite (GEC). In the Self-Report Form, significant differences were observed in the Self-Monitoring, Task Completion, and Plan/Organize scales, as well as in the GEC, the Emotional Regulation (ERI) and Cognitive Regulation (CRI) indexes. Furthermore, it was also possible to observe an association between the interest aroused by music and the development of executive functions in young musicians.In summary, it can be stated that a positive association was found between musical practice and executive functioning in the studied group.