Adolescência e perturbação de ansiedade social em tempos de pandemia: um estudo qualitativo e comparativo entre rapazes e raparigas

Abstract

A pandemia por Covid-19 e as diversas medidas implementadas a fim de mitigar a disseminação da doença provocaram alterações drásticas na vida da população, com impacto a nível físico e mental, sobretudo em crianças e adolescentes. A literatura tem indicado que este impacto pode ter sido especialmente sentido por indivíduos com perturbação psicopatológica pré-existente, como por exemplo Perturbação de Ansiedade Social (PAS). A PAS, por sua vez, parece ter uma apresentação indistinta entre rapazes e raparigas, no entanto, os dois sexos poderão ter sido impactados de forma diferente pela vivência em pandemia e pelo consequente isolamento social. O presente estudo, de natureza qualitativa, teve como objetivo explorar as vivências de adolescentes com (PAS) durante a pandemia, comparando rapazes e raparigas. Foram entrevistados 10 adolescentes (5 do sexo masculino e 5 do sexo feminino), com idades compreendidas entre os 16 e os 18 anos de idade (M=16,90; DP=1,42). A recolha de dados foi realizada através de uma entrevista semiestruturada que pretendia perceber o impacto da pandemia e das restrições sociais impostas na manifestação de sintomas de ansiedade social assim como nas experiências sociais e académicas destes jovens. As respostas foram analisadas com recurso à Análise Temática. Os resultados encontrados revelam que os participantes encontraram alguns desafios sociais no contexto virtual (e.g., novas formas de comunicação e de exposição). Jovens de ambos os sexos revelaram um aumento da comunicação virtual, durante a qual os medos típicos da PAS também se fizeram sentir. O isolamento social foi mais evidente no sexo feminino. As restrições sociais e o ensino remoto parecem ter reforçado os comportamentos de evitamento e de segurança, aumentando as preocupações e dificuldades destes jovens com o regresso à normalidade. A nível académico, verificou-se um decréscimo da atenção e da participação nas aulas em jovens de ambos os sexos, que se estendeu para as aulas presenciais. De uma forma geral, o impacto da pandemia em adolescentes com PAS foi semelhante para rapazes e raparigas. As escolas devem estar cientes do impacto da pandemia nas dificuldades sociais e académicas destes jovens, de forma a não perpetuar ciclos de evitamento e psicopatologia.

The Covid-19 pandemic and the various measures implemented to mitigate the spread of the disease caused drastic changes in the lives of the population, with physical and mental impact, especially on children and adolescents. The literature has shown that this impact may have been felt especially by individuals with pre-existing psychopathological disorders, such as Social Anxiety Disorder (SAD). SAD, in turn, seems to have an indistinct representation between boys and girls, although both sexes may have been impacted differently by the pandemic and the consequent social isolation.This qualitative study aimed to explore the experiences of adolescents with Social Anxiety Disorder (SAD) during the pandemic, comparing boys and girls. 10 adolescents (5 males and 5 females) aged between 16 and 18 years old (M=16.90; SD=1.42) were interviewed. Data collection was carried out through a semi-structured interview that intended to understand the impact of the pandemic and the social restrictions imposed on the manifestation of symptoms of social anxiety, as well as on the social and academic experiences of these young people. The responses were analyzed using Thematic Analysis. The results reveal that the participants encountered some social challenges in the virtual context (e.g., new forms of communication and exposure). Young people of both sexes revealed an increase in virtual communication, during which the typical SAD fears also made themselves felt. Social isolation was more evident in females. Social restrictions and remote teaching seem to have reinforced avoidance and safety behaviors, increasing these young people's concerns and difficulties with the return to normality. At an academic level, there was a decrease in attention and participation in classes among boys and girls, which extended to face-to-face classes. In general, the impact of the pandemic on adolescents with SAD was similar for boys and girls. Schools must be aware of the impact of the pandemic on the social and academic difficulties of these young people, so as not to perpetuate cycles of avoidance and psychopathology.