Importância da saúde oral no desportista: contributo com estudo de parâmetros imuno-inflamatórios

Abstract

Introdução. Num passado relativamente recente têm surgido diversos artigos científicos e referências na imprensa sobre a importância da saúde oral no desportista, em que foi possível identificar uma plausível relação entre o desempenho desportivo e a presença de lesões orais no atleta, ainda que, não demonstrada cientificamente. Objectivo. Contribuir para um melhor conhecimento científico dos índices de saúde oral nos atletas de alta competição analisando a possível relação destes índices com parâmetros imunoinflamatórios, a nível local (saliva) e a nível sistémico (sangue); avaliar a prevalência de traumatologia oral nos atletas integrantes do estudo e identificar a possibilidade de presença de bactérias em bolsas periodontais, com a finalidade de objectivar a possível relação entre o desempenho desportivo e a saúde oral. Método. Estudo epidemiológico de observação e transversal, com componente descritivo e analítico. A população compreendeu 75 atletas, com idade igual ou superior a 18 anos, pertencentes a três clubes da primeira Liga de futebol profissional, na época desportiva de 2004/05. Foram observados 66 atletas após obtenção de consentimento informado por escrito. A cada atleta foi aplicado um instrumento de recolha de dados que consistia na colheita de amostras salivares e sanguíneas, no preenchimento de um questionário sobre o historial clínico e desportivo dos atletas, noutro questionário sobre traumatologia oral, na execução de um Oral Health Survey – OMS, 1997 – 4ª edição, adaptado ao estudo, na colheita de amostras bacterianas em bolsas periodontais e na elaboração de um plano de tratamento para cada elemento da amostra. Resultados. A média de idades dos atletas foi de 26 anos, com um limite inferior de 18 anos e um superior de 36 anos (dp=4,0). A prevalência de traumatologia oral foi de 63,6%, correspondendo a um número médio de 3,67 episódios traumáticos por atleta (dp=2,8). Grande parte dos atletas (60,6%) acreditava na necessidade de uso dos protectores bucais, no entanto, nenhum os usava à data do estudo. A maioria dos atletas (81,8%) afirmou possuir uma boa saúde oral. O índice DMFT médio da nossa amostra foi 8,45. A percentagem de edentulismo foi de 48,5%. O valor 2 do índice CPI foi o mais prevalente na amostra (37,9%), havendo 36,4% de atletas com valor 0. Em 6,1% da amostra foram evidenciados sinais e/ou sintomas de dor ou infecção. A prevalência de lesões músculo-tendinosas foi de 80,3%. Na avaliação dos parâmetros imuno-inflamatórios, as concentrações médias da proteína C reactiva sérica, lisozima sérica, lisozima salivar, IgE sérica, IgA salivar, C3 do Complemento, Inibidor C1 do Complemento e α1-antitripsina sérica foram, respectivamente, 1,9 mg/l (dp=3,0), 12,0 mg/l (dp=2,6), 2,7 mg/l (dp=2,6), 112,7 UI/ml (dp=158,8), 88,4 µg/ml (dp=65,5), 105,6 mg% (dp=15,0), 29,4 mg% (dp=4,4) e 139,1 mg% (dp=21,8). Conclusões. O estado de saúde oral deste grupo de futebolistas de alta competição não divergiu significativamente da população em geral. A prevalência de traumatismos orais na prática desportiva foi muito elevada quando comparada com outros estudos referidos ao longo do trabalho, devido, em parte, a uma desprezível utilização de protectores bucais pelos atletas. Não se verificou, de forma estatisticamente significativa, qualquer influência provocada por alterações no estado de saúde oral na frequência de lesões músculo-tendinosas, assim como, nas concentrações dos parâmetros imuno-inflamatórios. Foi evidenciada uma reduzida concentração média de IgA salivar na amostra, o que pode contribuir para um aumento da frequência de infecções respiratórias altas, assim como, de lesões cariosas.

Introduction: In a relatively recent past, various scientific articles and media references have surfaced about the importance of oral health in the athlete, being it possible to identify a plausible relationship between the sports performance and the presence of oral injuries in athletes, however, not demonstrated scientifically. Objectives: Contribute to a greater and better scientific knowledge of the oral health status/indexes in elite athletes by analyzing the possible relation of these indexes with immuneinflammatory parameters, locally (saliva) and systemically (blood); evaluate the prevalence of oral trauma in the athletes participating in the study and identify the presence of bacteria in periodontal pockets, with the finality of assessing the possible relation between sports performance and oral health. Methods: Epidemiologic observational and transversal study, with a descriptive and analytical component. The study population included seventy-five male athletes, with eighteen or more years of age, belonging to three teams of the first League of professional Portuguese soccer, during the 2004/05 sports season. Sixty-six athletes were examined after having signed an informed consent form. It was applied, to each athlete, an instrument of data collection that consisted of obtaining saliva and blood samples, filling out questionnaires regarding clinical and sports history of the athletes, as well as their past oral trauma, carrying out an Oral Health Survey – WHO, 1997 – 4th Edition, adapted to these study, collecting bacteria samples from periodontal pockets and elaborating a plan of treatment for each element of the study. Results: The mean age of the athletes was 26 years old, with an inferior limit of 18 years and a superior limit of 36 years (sd=4.0). The prevalence of oral trauma was 63.6%, corresponding to a mean number of 3.67 traumatic events per athlete (sd=2.8). Most of the athletes (60.6%) believed in the necessity of using mouth guards, however, none where using them at the time of the study. The majority of the athletes (81.8%) stated that they had a good oral health. The mean DMFT of our sample was 8.45. The percentage of edentulous was 48.5%. A CPI Score 2 was the most prevalent in our sample (37.9%), having 36.4% of the athletes a Score 0. In 6.1% of our sample, signs and/or symptoms of oral pain or infection were documented. The prevalence of muscular and tendinous injuries was 80.3%. In the analysis of the immune-inflammatory parameters, the mean concentration of the C-reactive protein, lysozyme in serum, salivary lysozyme, serum IgE, salivary IgA, C3 factor of Complement, C1 inhibitor of Complement and α1 antitrypsin in serum, was, respectively, 1.9 mg/l (sd=3.0), 12.0 mg/l (sd=2.6), 2.7 mg/l (sd=2.6), 112.7 UI/ml (sd=158.8), 88.4 μg/ml (sd=65.5), 105.6 mg% (sd=15.0), 29.4mg% (sd=4.4) e 139.1mg% (sd=21.8). Conclusions: The oral health status of this group of elite soccer players did not diverse significantly from the general population. The prevalence of oral trauma during sports practice was very high when compared with other studies mentioned throughout this study, partially, due to a poor usage of mouth guards by these athletes. It was not identified, with statistical significance, any influence of changes of the oral health status in the frequency of muscular and tendinous injuries, as well as in the concentrations of the immune-inflammatory parameters. It was assessed a reduced mean concentration of salivary IgA in our sample, that might contribute to an increase in the incidence of high respiratory infections and carious lesions.