Pensar o Libertismo em Jean Paul Sartre

Abstract

RESUMOPensar o Libertismo a partir de Jean Paul SartrePensar o libertismo a partir de Jean Paul Sartre constitui o tema do relatório do estágio pedagógico do Mestrado em ensino de Filosofia no Ensino Secundário. Oriento esta escolha de acordo com duas lógicas pragmáticas. Uma decorre de, após uma reflexão sobre as Aprendizagens Essenciais previstas em legislação relativas ao décimo ano de Filosofia, ter concluído que o tópico da Liberdade aparece vazio de referenciais autorais. Creio que esta proposição da questão não favorece a compreensão da mesma e torna vagas as possibilidades pedagógicas. Adicionalmente, nas aulas do Seminário Científico Didático de acompanhamento, a possibilidade de ‘rechear’ de autores o tema do Determinismo/Liberdade emergiu como uma sugestão, que agora traduzo na redação deste texto.Dividirei o relatório em três partes. Uma respeitante ao decurso do estágio propriamente dito, procura ser uma reflexão descritiva do mesmo, nas suas forças e fraquezas, assumindo um registo simultaneamente descritivo, analítico, além de contextualizador. A segunda parte é composta por um ensaio de explanação do tema teórico mencionado, recortando em Sartre a referência ao tema da subjetividade, no contexto das suas considerações de teor ético sobre a liberdade. Fundamentalmente, serão as obras O Ser e o Nada e o Existencialismo é um Humanismo a guiar a reflexão. A terceira parte compreende um esboço de didatização desta questão, com a apresentação de três aulas devidamente planificadas, bem como dos respetivos dispositivos didáticos a utilizar.A tese de Sartre pode ser resumida na convicção de que não existe nenhuma natureza humana que preceda a existência, passível de ser apresentada como critério do agir. Segundo o autor, a existência tem precedência relativamente à essência. O sujeito é aquilo que ele faz de si mesmo, como produto que é da sua liberdade.Sem um Deus que conceba uma natureza humana a priori, tudo depende da liberdade. Em si mesma, a vida não tem sentido ou valor. É tarefa do ser humano dar-lhe sentido. Antes de ser vivida, a vida não é nada. O valor da vida é o sentido que cada um escolhe dar-lhe.Sartre, de um modo contextualizado, reflete contra uma antropologia que situa os valores nas estruturas pré-determinadas da natureza. Esta interpretação naturalista é incompatível com a liberdade e a criatividade humanas. Reivindica a libertação do ser humano da esfera cultural e histórica, para que transcenda a natureza e passe a viver o reino da absoluta liberdade. Este não nasceu marcado pela escolha de ser ou não livre, mas foi lançado na existência desta forma. Torna-se fundamental precisar o que entende o autor por condição humana e como pode preencher de conteúdo uma noção de liberdade que não fica entregue a uma pura arbitrariedade ocasional e possa contribuir para que a Humanidade se humanize.

SUMMARYThinking about Libertarianism from Jean Paul SartreThinking about libertism from the point of view of Jean Paul Sartre is the theme of the report on the pedagogical internship of the Master in Philosophy teaching in Secondary Education. I guide this choice according to two pragmatic logics. One stems from, after a reflection on the Essential Learning provided for in legislation relating to the tenth year of Philosophy, having concluded that the topic of Freedom appears empty of authorial references. I believe that this proposition of the question does not favor the understanding of it and makes the pedagogical possibilities vague. Additionally, in the classes of the accompanying Scientific Didactic Seminar, the possibility of 'filling' the theme of Determinism/Freedom with authors emerged as a suggestion, which I now translate in the writing of this text.I will divide the report into three parts. One concerning the course of the internship itself, seeks to be a descriptive reflection of it, in its strengths and weaknesses, assuming a simultaneously descriptive, analytical, and contextualizing register. The second part consists of an essay explaining the theoretical theme mentioned, using Sartre's reference to the theme of subjectivity, in the context of his ethical considerations on freedom. Fundamentally, the works The Being and Nothingness and Existentialism is a Humanism will guide the reflection. The third part comprises a didactic sketch of this issue, with the presentation of three properly planned classes, as well as the respective didactic devices to be used.Sartre's thesis can be summarized in the conviction that there is no human nature that precedes existence, capable of being presented as a criterion for acting. According to the author, existence takes precedence over essence. The subject is what he makes of himself, as a product of his freedom.Without a God who conceives of human nature a priori, everything depends on freedom. In itself, life has no meaning or value. It is the human being's task to make sense of it. Before being lived, life is nothing. The value of life is the meaning that each one chooses to give it.Sartre, in a contextualized way, reflects against an anthropology that places values ​​in the predetermined structures of nature. This naturalistic interpretation is incompatible with human freedom and creativity. It demands the liberation of the human being from the cultural and historical sphere, so that he transcends nature and begins to live the realm of absolute freedom. This one was not born marked by the choice of being free or not, but was thrown into existence in this way. It is essential to specify what the author understands by the human condition and how he can fill with content a notion of freedom that is not left to pure occasional arbitrariness and can contribute to humanizing humanity.