Estilos parentais em crianças com epilepsia

Abstract

Background: The concept of “parenting styles”, seen as a set of attitudes of parents related to child rearing, responsible for the emotional context within which occur the interactions between them, is central to the study of parenting. Parenting styles can be influenced not only by the characteristics of the parents, but also by the behavior and characteristics of the children. In children with epilepsy, parenting challenges can be increased. Objectives: to understand which is the predominant parenting style in parents of children with epilepsy, and the similarities/differences when compared to parents of children without known developmental challenges; to understand whether the parenting styles of parents of children with epilepsy vary as a function of clinical variables related with the condition; to compare executive functions of children with epilepsy to those of children without known developmental challenges; to understand the relationship between parenting styles and executive functions. Method: 25 children with epilepsy and their parents participated in the study. Children were aged between 2 and 9 years, and their parents answered a protocol consisting of a sociodemographic questionnaire, and the Portuguese versions of the Parental Dimensions and Styles Questionnaire (QDEP) and the Behavior Rating Inventory of Executive Function (BRIEF), preschool (BRIEF-P) and school (BRIEF-2) versions. A clinical questionnaire was also completed. The study used two comparison groups, one for the QDEP (n = 23) and one for the BRIEF (n = 75). Results: The QDEP showed low values of internal consistency. In the clinical group, the authoritative parenting style was predominant, and this group was not different from the comparison group in relation to any of the two parenting styles studied. Parents of children without comorbidities reported using the authoritative style more than parents of children with comorbidities. Comparison between groups with regard to executive functions highlighted some statistically significant differences in BRIEF-2 (Working Memory and Planning/Organization) but not BRIEF-P scales. A greater level of difficulties in executive functions was related to a greater use of an authoritarian parenting style. Discussion and conclusions: The present study contributes to a better understanding of the parenting styles of parents of children with epilepsy, and may provide some clues for intervention with these children and families, namely in order to promote the well-being of parents and children as well as more positive relationships between them. On the other hand, it points out ways for investigations to be carried out in the future.

Enquadramento: O conceito de “estilos parentais”, enquanto conjunto de atitudes dos pais relacionadas com a educação dos filhos, responsável pelo clima emocional no contexto do qual se estabelecem as relações entre ambos, é central no estudo da parentalidade. Os estilos parentais podem ser influenciados não só por características dos pais, mas também pelo comportamento e características das crianças. Em crianças com epilepsia, os desafios parentais podem tornar-se acrescidos. Objetivos: perceber qual o estilo parental predominante em pais de crianças com epilepsia e as semelhanças/diferenças em comparação com pais de crianças sem desafios desenvolvimentais conhecidos; compreender se os estilos parentais de pais de crianças com epilepsia são diferentes em função de variáveis clínicas relativas à epilepsia; comparar funções executivas de crianças com epilepsia com as de crianças sem desafios desenvolvimentais conhecidos; perceber a relação entre estilos parentais e funções executivas. Método: Participaram no estudo 25 crianças com epilepsia, com idades compreendidas entre os 2 e os 9 anos, e os seus pais, que responderam a um protocolo constituído por um questionário sociodemográfico, e pelas versões portuguesas do Questionário de Dimensões e Estilos Parentais (QDEP) e do Inventário de Funções Executivas - Behavior Rating Inventory of Executive Function (BRIEF), versões pré-escolar (BRIEF-P) e escolar (BRIEF-2). Foi também preenchido um questionário clínico. O estudo recorreu a duas amostras de comparação, uma para o QDEP (n = 23) e outra para o BRIEF (n = 75). Resultados: O QDEP revelou valores baixos de consistência interna. Na amostra clínica o estilo parental autoritativo surgiu como predominante, não se distinguindo esta amostra da amostra de comparação relativamente a nenhum dos dois estilos parentais estudados. Os pais de crianças sem comorbilidades reportaram usar mais o estilo autoritativo do que os de crianças com comorbilidades. A comparação entre amostras no que diz respeito às funções executivas destacou algumas diferenças estatisticamente significativas em escalas do BRIEF-2 (Memória de trabalho e Planeamento/Organização), mas não do BRIEF-P. Um maior nível de dificuldades nas funções executivas mostrou-se relacionado com um maior recurso a um estilo parental autoritário. Discussão e conclusões: O presente estudo contribui para uma melhor compreensão dos estilos parentais dos pais de crianças com epilepsia, podendo dar algumas pistas para a intervenção com estas crianças e famílias, nomeadamente no sentido de promover o bem-estar de pais e filhos e relações mais positivas entre eles. Por outro lado, aponta caminhos para investigações a realizar no futuro.