Cardiotoxicidade associada às antraciclinas nos doentes jovens com Linfoma De Hodgkin: Análise de fatores protetores, fatores de risco e outcomes

Abstract

Despite the constant innovation in the development of new chemotherapy regimens and in the design of treatment protocols that combine them, the use of anthracyclines remains central in the treatment of patients with Hodgkin's Lymphoma (HL). The effectiveness of these therapeutic regimens is now consensual, either as agents modifying the evolution of the disease, or even as agents with curative potential; on the other hand, the cardiotoxicity they induce constitutes a limitation to their full use, especially in patients with cardiovascular comorbidities.Thus, the careful evaluation of anthracycline-induced cardiotoxicity is extremely important in order to better adapt and personalize the regimens to the patient, as well as to predict the impact on health and the repercussions on the quality of life that these treatments may have both in the short and long term.Through this study, we retrospectively evaluated patients diagnosed with HL in young adulthood in the last 10 years, who underwent chemotherapy with protocols that included anthracyclines, analyzing cardiotoxic effects on serial pre- and post-chemotherapy assessments of cardiac function, including studies of Left Ventricular Ejection Fraction (LVEF) by radionuclide angiography or by echocardiography, and on biochemical markers of cardiac dysfunction. The co-occurrence of possible risk factors that could potentiate cardiotoxicity was investigated, including the use of radiotherapy and the presence of modifiable cardiovascular risk factors, among others, as well as the coexistence of possible protective characteristics.Additionally, international consensus criteria that allow the staging of patients according to degrees of cardiac toxicity were applied, and the guidelines for the prevention, diagnosis, and prophylaxis of anthracycline-induced cardiotoxicity to issued by medical societies of Cardiology, Hematology and Medical Oncology were compared, identifying opportunities for improvement in the clinical follow-up of these patients, mainly, serial analysis of echographic data and cardiac biomarkers, more or less frequently, in function of the pretreatment score for cardiotoxicity.

Não obstante a constante inovação no desenvolvimento de novos quimiofármacos e no desenho de protocolos de tratamento que os combinem, o recurso a antraciclinas continua a ser central no tratamento de doentes com Linfoma de Hodgkin (LH). A eficácia destes esquemas terapêuticos é hoje consensual, quer como agentes modificadores da evolução da doença, quer mesmo como agentes com potencial curativo; por oposição, a cardiotoxicidade associada aos mesmos constitui uma limitação à sua plena utilização, mormente em doentes com comorbilidades, principalmente do foro cardíaco.Assim, a avaliação criteriosa da cardiotoxicidade induzida por antraciclinas revela-se de extrema importância na tentativa de melhor adaptar e personalizar os esquemas ao doente, bem como de avaliar e predizer o impacto sobre a saúde e as repercussões sobre a qualidade de vida que estes tratamentos poderão vir a ter a curto e longo-prazo. Através deste estudo, fizemos uma avaliação retrospetiva de doentes diagnosticados com LH em idade adulta jovem nos últimos 10 anos, que foram submetidos a quimioterapia com protocolos que incluíssem antraciclinas, utilizando como marcadores de cardiotoxicidade a avaliação da função cardíaca seriada pré, durante e após quimioterapia, incluindo estudos da Fração de Ejeção do Ventrículo Esquerdo (FEVE) por angiografia de radionuclídeos ou por ecocardiografia, e marcadores bioquímicos de disfunção cardíaca. Foi investigada a co-ocorrência de eventuais fatores de risco potenciadores de cardiotoxicidade, incluindo a realização de radioterapia e a presença de fatores de risco cardiovasculares modificáveis, entre outros, bem como a coexistência de possíveis características protetoras. Adicionalmente, aplicaram-se critérios internacionais consensuais de estadiamento que permitem classificar os doentes em graus de toxicidade cardíaca, e confrontaram-se as linhas de orientação para a prevenção, diagnóstico e profilaxia da cardiotoxicidade a antraciclinas emitidas pelas sociedades de Cardiologia e de Hematologia e Oncologia Médica. Identificaram-se, desta forma, oportunidades de melhoria no seguimento destes doentes, nomeadamente, a análise seriada de parâmetros ecográficos e de marcadores de função cardíaca, em intervalos de tempo mais ou menos apertados, em função de risco de cardiotoxicidade pré-determinado por um score.