Avaliação Indireta Precoce da Função Vestibular em Recém-Nascidos: Uma abordagem próxima?

Abstract

Introdução: O órgão do equilíbrio localizado a nível do ouvido interno cumpre um papel elementar no desenvolvimento motor em idade pediátrica. A disfunção vestibular passa comummente despercebida pela sua variabilidade clínica e induz prejuízos motores na primeira infância, assim como influencia aptidões como a escrita, a leitura e o desenvolvimento cognitivo-social infantil. Face à estreita relação anatómica entre a cóclea e o vestíbulo, as crianças com défice de acuidade auditiva apresentam um maior risco de disfunção vestibular. Objetivo: O objetivo primário é perceber se crianças com perda auditiva revelam alterações de função vestibular, que justifiquem um rastreio universal da função vestibular dos recém-nascidos referenciados para Otorrinolaringologia, por suspeita de perda auditiva. Como objetivos secundários, pretende-se avaliar a relação entre a acuidade auditiva e a função vestibular com a preocupação parental; e avaliar a relação entre a presença de fatores de risco para surdez até aos 28 dias de vida com a evidência de disfunção vestibular. Métodos: Estudo observacional e transversal single-center, para avaliação da associação entre perda auditiva e disfunção vestibular através de marcadores indiretos de função vestibular (segurar a cabeça, sentar e caminhar, sem apoio) num total de 58 indivíduos entre os 0 e os 24 meses. Foram utilizados os testes estatísticos Qui-quadrado (Χ2) ou Fisher. Resultados: Verificou-se que existe uma relação estatisticamente significativa entre disfunção vestibular e peso ao nascimento < 1500 g; índice de APGAR; medicação ototóxica > 5 dias e ventilação mecânica ≥ 5 dias. Observou-se relação entre a preocupação parental e a presença de disfunção vestibular. Não se observou relação entre a preocupação parental acerca da acuidade auditiva dos seus filhos e a perda auditiva. Verificou-se a não existência de relação entre perda auditiva e presença de disfunção vestibular, independentemente do tipo de surdez. Discussão: A preocupação parental, assim como a presença de fatores de risco auditivos, encontram-se associados à presença de disfunção vestibular. A realização de um estudo longitudinal, multicêntrico, com recurso a parâmetros objetivos de avaliação vestibular poderá evidenciar a necessidade de um rastreio vestibular universal em crianças com suspeita de perda auditiva associada a preocupação parental. Medidas de intervenção instituídas precocemente podem limitar o impacto de um défice vestibular no desenvolvimento da criança. Conclusão: Deve ser realizada uma avaliação vestibular pediátrica precoce em crianças com fatores de risco para surdez até aos 28 dias de vida associada a preocupação parental.

Introduction: The inner ear vestibule plays an elementary role in motor development in children. Vestibular dysfunction usually goes unnoticed due to its clinical variability, but induces motor impairments in early childhood, also influencing skills such as writing, reading and cognitive-social development in children. Due to a close anatomical relationship between the cochlea and the vestibule, children with impaired hearing acuity have a higher risk of vestibular dysfunction. Objective: Our aim is to evaluate whether children with hearing loss present altered vestibular function compared to normal-hearing children. This would justify a universal standard assessment of the vestibular function of newborns referred to Otorhinolaryngology. Secondary aims are to assess the relationship between hearing loss and vestibular function with parental concern; and to find associations between risk factors for hearing loss up to 28 days of life and vestibular dysfunction. Methods: Single-centre observational and cross-sectional study to assess the association between vestibular dysfunction and hearing loss through indirect markers of vestibular dysfunction (holding the head, sitting and walking, without support) in 58 infants, between 0 and 24 months. We used descriptive, Chi-square (Χ2) or Fisher statistical tests when appropriate. Results: We found an association between vestibular dysfunction and birth weight < 1500 g; APGAR index; ototoxic medication > 5 days and mechanical ventilation ≥ 5 days. There was an association between parental concern and the presence of vestibular dysfunction. There was no evidence of hearing loss and parental concern. We found no statistically significant difference between hearing loss and the presence of vestibular dysfunction, whatever type of deafness present. Discussion: Both parental concern and the presence of auditory risk factors are associated with the presence of vestibular dysfunction. A longitudinal, multicenter study, using objective parameters of vestibular assessment may highlight the need for universal vestibular screening in children with suspected hearing loss associated with parental concern. Intervention measures instituted early can limit the impact of a vestibular deficit on the child's development. Conclusion: Due to the similarity between risk factors for hearing loss up to 28 days of life and vestibular dysfunction, it supports an early pediatric vestibular assessment of this group.