Motivos para absentismo a consultas médicas e caraterização desses utentes

Abstract

Introdução. O absentismo a consultas médicas é um problema crónico, inerente a qualquer sistema de saúde. Este apresenta-se com uma percentagem variável, variando com a especialidade médica e o sistema de saúde. Objetivos. Caracterizar a população absentista numa Unidade de Saúde Familiar no Centro de Portugal nos anos de 2019 e 2021. Métodos. Estudo transversal observacional dos utentes que faltaram a uma consulta médica, inscritos na Unidade de Saúde Familiar Topázio, em Eiras, Coimbra, pela análise de registos de inscrição e falta à consulta e a que tipo de consulta. Os dados foram obtidos por médica com capacidade para acesso. Procurou-se, também, identificar se ocorreram alterações no comportamento da população absentista no decorrer da pandemia por SARS-CoV-2. Foram selecionados os utentes que faltaram a pelo menos uma consulta, num dos anos de estudo, e retirados os seguintes dados de cada um dos utentes – idade, sexo, tipo de família, índice de Graffar, número de patologias ativas, número de consultas marcadas por ano (nos anos em estudo) e número de faltas a consultas por ano (nos anos de estudo). Foram analisadas as variáveis em função de cada um dos anos de estudos, tendo-se também comparado os dois anos em estudo.Resultados. Obtiveram-se dados de utentes de dois médicos da Unidade de Saúde Familiar, nos meses de janeiro a março de 2019 e outubro a dezembro de 2021. A caracterização da população absentista foi semelhante nos dois anos de estudo – pertencentes, na sua maioria, a famílias nucleares com índice de Graffar médio ou médio-alto, que faltam a uma consulta por ano, sendo esta consulta sobretudo de iniciativa médica. Quanto ao comportamento da população nos dois anos, evidenciaram-se alterações - em 2021 faltaram mais utentes pertencentes a famílias unitárias (p=0.023), sendo que todos os restantes tipo de família faltaram menos nesse mesmo ano. Adicionalmente, os utentes foram a mais consultas no ano de 2021, comparativamente com 2019 (p=0.006). Foi possível caracterizar a população absentista no contexto da Unidade de Saúde Familiar Topázio nos dois anos de estudo. Conclusão. As alterações no comportamento da população vão ao encontro de conclusões retiradas de outros estudos, salientando o impacto da pandemia na perceção da saúde por parte da população e no seu consequente comportamento, agora mais atinente a sua consideração.

Introduction. Nonattendance to medical appointments is a chronical problem to any health system. The percentage of no-shows depends on the medical specialty and on the health system. Objectives. Define and characterize the Portuguese no show population, during the years of 2019 and 2021, in a Family Medicine unit in Coimbra. Methods. A transversal and observational study was conducted in patients who missed one appointment, from Topázio Family Medicine Unit in Eiras, Coimbra, through the analysis of the appointments’ schedules. The data was collected by a doctor with access to the medical files. The study also tried to understand if the establishment of the Sars-CoV-2 pandemic changed the behaviour of this same population. Data from no show patients was selected from two physicians. The patients selected missed at least one appointment over those two periods. The following data was taken from each patient – age, gender, type of family, the Graffar index, number of active diseases, number of appointments per year and number of missed appointments per year. The data was analysed by year of study and then compared between both years. Results. The patient’s data was collected from two physicians who work in the Family Medicine Unit. Data was collected between the months of January to March of 2019 and between October and December of 2021. The no-show population is similar in both years: most patients are from nuclear families, with the Graffar index medium or medium-high, who missed one appointment per year, especially if the appointment was scheduled by the doctor. When studied the behaviour changes, we found some changes – in 2021 more patients missed from unitary families (p=0.023), in contrast to the other types of families who missed less in 2021. Additionally, the patients went to more appointments in 2021, comparing to 2019 (p=0.006). We successfully defined the no-show population over the two years of study.Conclusion. The behaviour changes found in the studied population meet the conclusions taken from other studies, pointing the impact of the pandemic over people’s perception about their health and behaviour.