Estudo do impacto da idade no processo de estimativa do sexo

Abstract

O complexo processo de estimativa do sexo de um indivíduo é essencial na sua identificação, e é um dos principais componentes do perfil biológico. O longo estudo deste parâmetro aplicado a esqueletos remonta ao séc. XIX, evoluindo desde o estudo das características/traços mais dimórficos, um procedimento contínuo mesmo até aos dias de hoje, até às tentativas atuais de conciliação com os novos desenvolvimentos tecnológicos e metodológicos.O presente estudo pretende avaliar de que forma os processos degenerativos, característicos do envelhecimento e ainda não totalmente compreendidos, influenciam a estimativa do sexo. Para tal, foram aplicados os métodos de Bruzek (2002) e Buikstra e Ubelaker (1994) à Coleção de Esqueletos Identificados Século XXI, calculando a precisão total, tendo em conta todos os indivíduos, segregando ou não os sexos e agrupando-os por faixas etárias e ossos fragmentados. A amostra na qual esta investigação se baseia é composta por 219 indivíduos, dos quais 113 são do sexo feminino e 106 do sexo masculino. As mulheres faleceram com idades compreendidas entre os 28 e os 100 anos e os homens entre os 25 e os 96 e a idade média calculada para a amostra é de 75,99 anos.Tanto para a precisão total como para a precisão testada em ossos fragmentados, o método mais preciso foi o de Buikstra e Ubelaker (1994), com resultados de 0,84 e 0,83, respetivamente. O método de Bruzek (2002) obteve resultados de 0,83 e 0,79, respetivamente. Agrupando os indivíduos por faixas etárias, foi entre os ]50-60] anos que os resultados são mais favoráveis, com uma precisão de 0,94 para o método de Bruzek (2002) e 0,88 para o método de Buikstra e Ubelaker (1994), registando-se o melhor valor de K para o intervalo ]80-90] anos. O método de Bruzek (2002) obtém os melhores resultados de precisão para as mulheres no intervalo ]80-90] anos e para os homens no intervalo ]70-80]; já o método de Buikstra e Ubelaker (1994) é mais preciso para os indivíduos do sexo feminino nos ]90-100] anos e para os do sexo masculino nos ]70-80] anos. Os melhores valores de K surgem, para ambos os sexos, no intervalo ]80-90] anos. Os traços que vão perdendo fiabilidade com o avançar da idade, independentemente do sexo, são a tuberosidade piriforme, a grande chanfradura ciática (incluindo a simetria da base e o contorno do segmento posterior), o ínion, o processo mastoide, a glabela e qualquer um dos traços do crânio analisado individualmente. Por outro lado, os traços que mantêm a sua fiabilidade, resistindo ao teste do tempo, são a proporção entre os segmentos [AC] e [CB] da grande chanfradura ciática e o sulco pré-auricular (método Buikstra e Ubelaker [1994]).O método de Buikstra e Ubelaker (1994) obteve melhores valores tanto no teste intraobservador (0,83 contra 0,62) como no interobservador (0,63 contra 0,44), quando comparado com o de Bruzek (2002).Algumas mudanças degenerativas ósseas dificultaram, por vezes, a análise dos restos ósseos, o que se reflete nos resultados de alguns traços. Desta forma, concluímos que, ainda que não tenham afetado de forma significativa os resultados finais dos métodos, que os efeitos do envelhecimento estão claramente presentes nesta amostra. Esta investigação junta-se a tantas outras que se baseiam nesta coleção, contribuindo para o seu estudo e melhor caracterização.

The complex process of estimating an individual’s sex is essential in its identification and is one of the main components of the biological profile. The long study of this parameter applied to skeletons dates back to the 19th century, evolving from the study of the most dimorphic features/traits, a continuous procedure even up to the present day, up to the current attempts of conciliation with the new technological and methodological developments.The present study intends to evaluate how the degenerative processes, characteristic of aging and not yet fully understood, influence the estimation of sex. To achieve this, the methods of Bruzek (2002) and Buikstra and Ubelaker (1994) were applied to the 21st century Collection of Identified Skeletons, total precision has been calculated, considering all individuals, segregating or not the sexes and grouping them by age groups, and fragmented bones. The sample on which this investigation is based is composed by 219 individuals, of which 113 are female and 106 male. Women died aged between 28 and 100 years and men between 25 and 96 and the average age calculated for the sample is 75.99 years.For both total precision and precision tested on fragmented bones, the most accurate method was the one of Buikstra and Ubelaker (1994), with results of 0.84 and 0.83, respectively. Bruzek's method (2002) obtained results of 0.83 and 0.79, respectively. Grouping individuals by age groups, it was between (50-60) years that the results are more favorable, with an accuracy of 0.94 for the Bruzek method (2002) and 0.88 for the Buikstra and Ubelaker method (1994), the best value of K for the interval (80-90) years has been recorded. Bruzek’s method (2002) obtains the best accuracy results for women in the (80-90) range and for men in the (70-80) range, whereas the method by Buikstra and Ubelaker (1994) is more accurate for females at (90-100) years and for males at (70-80) years. The best values of K appear, for both sexes, in the interval (80-90) years. The features that lose reliability with advancing age, regardless of sex, are the piriform tuberosity, the large sciatic notch (including the symmetry of its base and the contour of the posterior segment), the inion, the mastoid process, the glabella and any other features of the skull analyzed individually. On the other hand, the traits that maintain their reliability, standing the test of time, are the proportion between the segments [AC] and [CB] of the large sciatic notch and the preauricular sulcus (Buikstra and Ubelaker [1994] method). The method by Buikstra and Ubelaker (1994) obtained better values both in the intraobserver test (0.83 against 0.62) and in the interobserver test (0.63 against 0.44), when compared to the one by Bruzek (2002).Some bone degenerative changes sometimes made it difficult to analyze bone remains, which is reflected in the results of some traits. Thus, we conclude that, although they have not significantly affected the final results of the methods, the effects of aging are clearly present in this sample. This investigation joins many others that are based on this collection, contributing to its study and better characterization.