Heranças africanas em língua portuguesa: «Sempre habitámos um espaço maior que nós»

Abstract

Num ensaio lucidamente intitulado “Da ficção do império ao império da ficção”, publicado em 1984, Eduardo Lourenço escreve a propósito da descolonização portuguesa: Temos de nos habituar a pensar que sempre habitámos um espaço maior que nós e por isso mesmo sem sujeito. É a parte de verdade da nossa imperial ficção. Contentemo-nos hoje com a ficção dessa verdade. E adaptemo-nos em casa e fora dela a essa ficção. (Lourenço, p. 269) No referido ensaio, Eduardo Lourenço defende a ideia segundo a qual, na percepção sobre a descolonização durante os anos 1980 em Portugal, mantinha-se a atitude de “desdramatização” quanto ao facto colonial, a coberto da ideia imperialista do regime salazarista de uma “colonização diferente”.

In his expressively titled 1984 essay, “From the fiction of empire to the empire of fiction”, Eduardo Lourenço wrote about Portuguese decolonization: We have to get used to the idea that we have always inhabited a space that is bigger than us, and which, for this very reason, lacks a subject. It is the element of truth in our imperial fiction. Let us come to terms, today, with the fiction of that truth. And let us adapt to this fiction at home and abroad. (Lourenço, p. 269) In the essay, Eduardo Lourenço argues that in Portugal in the 1980s the perception of decolonization was dominated by a “de-dramatizating” of the colonial fact, under the cover of the Salazarist, imperialist notion of a “different colonization”.