Actividades extractivas, território e mulheres: um estudo de caso sobre Cabo Delgado

Abstract

Moçambique vive, no presente, um ciclo de capitalismo financeiro-extractivista baseado em mega-projectos. Por outras palavras a sua economia está baseada na extracção de recursos minerais, energéticos e na exploração intensiva dos recursos piscatórios, silvícolas, agrícolas e fundiários que determina o seu lugar na economia política da divisão internacional do trabalho e da produção. Várias pesquisas têm colocado em evidência que tem havido uma transferência maciça dos benefícios gerados pelas actividades extractivas para as corporações internacionais causando a subida da desigualdade, a emergência de conflitos violentos, a erosão da democracia, a deslocação forçada de muitas pessoas e o desrespeito sistemático pelas condições de vida materiais e espirituais das populações e o esbulho dos territórios. Neste panorama, a condição de vida das mulheres e das meninas tem sofrido sérios revezes. Integrado num projecto de pesquisa internacional que realizou um estudo comparado entre territórios em transfiguração devido a actividades extractivas na Colômbia, Tolima; Espanha, Urdaibai; e Moçambique, Cabo Delgado, apresentamos o estudo de caso realizado em Moçambique. Com base na revisão da literatura disponível sobre o tema e em trabalho empírico levado a cabo na província de Cabo Delgado temos três objectivos com esta apresentação. O primeiro é examinar alguns aspectos da economia política que subjaz às actividades extractivas em Moçambique. O segundo é apresentar dados sobre a situação vivida em Cabo Delgado, em particular pelas mulheres face às transfigurações que o seu território tem vindo a sofrer na última década. O último é realizar uma reflexão sobre as lições aprendidas sobre as alternativas de vida pensadas e levadas a cabo pelas mulheres nos seus territórios.