Sexualidade e parto: em busca do elo perdido

Abstract

Tendo-se como base metodológica a sociologia das ausências e a sociologia das emergências proposta por Boaventura de Sousa Santos, este artigo realiza uma cartografia simbólica teórica e prática sobre a relação entre sexualidade e parto. Na parte inicial, debate-se como o paradigma hegemônico da biomedicina, o chamado modelo tecnocrático, conforme categorização proposta por Davis-Floyd, foi dissociando o parto da sua natureza sexual. Em seguida, aborda-se a sexualidade do parto a partir de uma revisão da literatura que incluiu o resultado de pesquisas acadêmicas mais recentes sobre a temática, criando uma base teórica que situa o parto enquanto evento inerentemente sexual. No campo empírico, a temática é abordada a partir das narrativas e da percepção pessoal de mães da comunidade intencional de Tamera, no sul de Portugal, escolhida como lócus de pesquisa por manter uma cultura de (amor e) sexualidade livre e também por incentivar os partos domiciliares planejados, dois ingredientes fundamentais para permitir a religação do elo entre sexualidade e parto. Tal etapa foi conduzida com o propósito de identificar como as mulheres vivenciam ou expressam sua sexualidade no trabalho de parto e parto. Conclui-se que o parto é um evento intrinsecamente sexual, bastante marcante no ciclo sexual das mulheres, além de ser considerado extremamente empoderador, com consequências não apenas para a vida sexual, mas para a vida delas como um todo.

By applying, as a methodological base, the sociology of absences and the sociology of emergence proposed by Boaventura de Sousa Santos, this paper produces a theoretical and practical symbolic cartography about the relationship between sexuality and childbirth. In the first part, it is debated how the biomedicine hegemonic paradigm, the so called technocratic model, accordingly to the categorization proposed by Davis-Floyd, has disconnected childbirth from its sexual nature. Next, the sexuality of childbirth is discussed in a literature review that includes the results of the most recent academic research about the subject, creating a theoretical base that situates childbirth as an inherently sexual event. On the empirical field, the theme is debated from the personal narratives and perceptions of the mothers from the intentional community of Tamera, in southern Portugal, chosen as research locus for having a culture of free (love and) sexuality and also for encouraging home planned childbirth, two fundamental ingredients to allow the reconnection of the link between sexuality and childbirth. This stage was conducted with the goal to identify how these women expressed and experienced their sexuality during labor and childbirth. It is concluded that childbirth is an intrinsically sexual event, very striking in women’s sexual cycle, besides being considered extremely empowering, with consequences not only for their sexual lives, but for their lives as a whole.