O papado e Portugal no tempo de D. Afonso III : 1245-1279

Abstract

No período considerado, o clero português surge bem integrado na Europa do seu tempo, nas suas questões e problemas, na defesa dos seus direitos e prerrogativas. Por isso, procurou o melhor relacionamento com a cúria pontifícia. Em presença assídua, aí levou os seus problemas institucionais, familiares e pessoais, dando oportunidade à intervenção de diversos membros da cúria. Os aspectos estritamente eclesiásticos - eleições episcopais, benefícios eclesiásticos, questões por bens e direitos, - têm, por isso, lugar bem significativo. Mas o que mais releva - pelo crescendo de intensidade e significado - é a oposição rei-clero. Após um primeiro momento de supremacia do poder religioso sobre o real (com o afastamento de D. Sancho II), o novo rei (Afonso III) mostra-se cada vez mais actuante e claramente opositor de uma política favorável ao clero. Sucedem-se, assim, duas fases no seu governo: uma primeira de bom relacionamento, certa obediência e possível colaboracionismo e uma segunda, de luta aberta e tenaz com o clero do reino. Este, ressentido e receoso, procura refúgio na cúria pontifícia. O rei intenta e age; o clero divide-se, mas maioritariamente acciona as armas que lhe são próprias. Os problemas avolumam-se, num crescendo rápido, até à ruptura final. Mas o rei soube captar as fraquezas da Santa Sé e teve capacidade de agir, no momento oportuno. Conseguiu, por isso, minorar os efeitos práticos das penas impostas e continuou reinando. Outros problemas relacionados com os leigos e também estudados (dispensas de casamentos, acesso a ordens sacras, direito de padroado) assumem grande relevância na valorização da documentação pontifícia como fonte para a história social. Completa o trabalho, a publicação de três documentos, imprescindíveis à compreensão das questões do rei com o clero.