At the crossroads between theory and praxis: How Kurdish Democratic Confederalism is articulating feminism, ecology and democracy

Abstract

In the Rojava region of Northern and Eastern Syria, the Kurdish Freedom Movement (KFM) has instigated a non-State democratic revolution known as Democratic Confederalism. Formulated by Kurdish leader Abdullah Öcalan in the early 21st century, this paradigm is based on three fundamental principles: radical democracy, women’s liberation, and ecology. While radical democracy has received its fair share of research attention, both in itself and in its correlation with the other two pillars, the nexus between women’s liberation and ecology remains inadequately explored in the existing literature. Considering how these two pillars are also important to both feminist and environmental politics in the 21st century, this thesis investigates the ways in which they have been articulated by Democratic Confederalism and mobilized by the Kurdish Women’s Movement (KWM) both in Rojava and at the transnational level. In so doing, the research gives an original contribution to ongoing debates on the nexus between feminist, decolonial, and ecological politics, especially from the Global South. It combines Feminist Political Ecology with Decolonial Theory and builds on nearly five years of militant ethnography with the KWM in Rojava and Europe. The manuscript comprises two parts: the first opens with a historical overview of Democratic Confederalism, providing research questions, hypotheses, methodology, theoretical framework, and a summary of research outcomes; the second comprises three articles, the first two already published and the third in the process of publication. The first article elucidates the interplay between ecofeminism and Democratic Confederalism, critically examining Öcalan’s theory of capitalist-patriarchal modernity. It scrutinizes the Kurdish leader’s historical analysis of Mesopotamia’s matristic ecologically driven societies as the foundational premise for both his communalist emancipatory project, and of Jineolojî - in Kurdish the "science of women and life", representing a novel method of knowledge production and socio-ecological transformation promulgated by the KWM during the last decade. The second article explores the emancipatory potential of the Kurdish matristic perspective within the women’s led revolutionary process in Rojava. Employing a decolonial feminist approach, it analyses Jineolojî’s pedagogical strategies to revitalize matristic knowledge, memories, and modes of reproduction of life, highlighting women’s socio-ecological agency within the broader democracy-building process in the region. The third and final article undertakes an analysis of the challenges faced by Jineolojî’s activists in translating their epistemology and worldview to feminist queer movements in Europe. Moreover, it explores the inherent potential of this translation process in fostering decolonial forms of North/South feminist alliances.Ultimately, this thesis offers an innovative understanding of Democratic Confederalism, portraying the ecological dimension of its emancipatory project as inextricably linked with the KWM’ struggle for depatriarchization and decolonization. The notion of a “matristic perspective” at the heart of the Kurdish paradigm is introduced to shed light on this link. It represents a decolonial ecofeminist pedagogy and praxis employed by Jineolojî to recentre the values of socio-ecological reproduction in the context of the Rojava’s revolution, and to advance decolonial feminist alliances capable of challenging patriarchy, capitalism and coloniality from the Global South to the North.

Na região de Rojava, localizada no Norte e Leste da Síria, o Movimento de Libertação Curdo incitou um processo revolucionário conhecido como Confederalismo Democrático. Concebido pelo líder curdo Abdullah Öcalan no início dos anos 2000, tal paradigma baseia-se em três princípios fundamentais: a democracia radical, a libertação das mulheres e a ecologia. Apesar do conceito de democracia radical ter recebido uma considerável atenção da literatura existente, seja com foco no conceito em si, seja na sua articulação com os outros dois pilares do Confederalismo Democrático, a conexão entre a libertação das mulheres e a ecologia permaneceu inadequadamente inexplorada. Considerando a importância desses dois pilares para as políticas feministas e ambientais do século XXI, esta tese propõe-se a investigar as formas como os mencionados princípios articulam-se no âmbito do Confederalismo Democrático e como foram mobilizados pelo Movimento das Mulheres Curdas em Rojava e no contexto transnacional. Neste fazer, a investigação traz uma contribuição original para os debates atuais sobre a interseção entre políticas feministas, decoloniais e ecologistas. Combina a abordagem da Ecologia Política Feminista com a Teoria Decolonial, tendo sido construída ao longo de quase cinco anos de etnografia militante no seio do Movimento das Mulheres Curdas em Rojava e na Europa.Este trabalho se divide em duas partes: a primeira inicia-se com um panorama histórico do Confederalismo Democrático, apresenta as questões, hipóteses, metodologia, enquadramento teórico e, por fim, os resultados da investigação; a segunda parte engloba três artigos científicos — dois deles já publicados e um em processo de publicação no momento da submissão da tese.O primeiro artigo lança luz à interligação entre ecofeminismo e Confederalismo Democrático, examinando criticamente a teoria da modernidade capitalista-patriarcal de Öcalan e a análise histórica das sociedades ecológicas matriarcais mesopotâmicas feita pelo líder curdo, a qual se encontra no fundamento do seu projeto comunalista emancipatório e da Jineolojî. Essa última, em curdo, “ciência das mulheres e da vida”, é abordada como uma nova metodologia de produção de conhecimento e transformação sócio-ecológica promulgada pelo Movimento de Mulheres Curdas na última década. O segundo artigo explora o potencial da “perspetiva matrística” (“matristic perspective”) no âmbito do processo revolucionário a decorrer em Rojava. Usando uma abordagem feminista decolonial, as estratégias pedagógicas da Jineolojî para revitalizar os saberes, memórias e modos de reprodução da vida existentes em sociedades “matrísticas” são analisadas, colocando em destaque a agência sócio-ecológica das mulheres no contexto mais alargado da construção da democracia na região. O terceiro e último artigo analisa os desafios encontrados pelas ativistas de Jineolojî para traduzir sua epistemologia e visão de mundo para movimentos feministas queer na Europa. Além disso, o artigo explora o potencial de tal processo de tradução cultural na criação de alianças feministas decoloniais.A presente tese oferece, assim, uma compreensão inovadora do Confederalismo Democrático, argumentando que a dimensão ecológica desse projeto emancipatório está intrinsecamente conectada à luta do Movimento das Mulheres Curdas pela despatriarcalização e descolonização da sociedade. A compreensão e o uso da noção de “perspetiva matrística” como central no paradigma Curdo é por mim introduzida para destacar tal ligação. Essa noção representa a pedagogia e práxis feminista decolonial empregada pela Jineolojî para trazer de volta ao seio da revolução em Rojava os valores da reprodução sócio-ecológica e para avançar com alianças feministas decoloniais capazes de desafiar o patriarcado, o capitalismo e o colonialismo do Sul ao Norte Global.