A Cultura e a Experiência da Cidade: Um estudo sobre a culturalização urbana numa cidade do interior

Abstract

Enquadrada num sistema económico que privilegia tendencialmente a produção e o consumo de experiências, a vivência urbana contemporânea é, crescentemente, uma experiência culturalizada. Tal tendência ganha especial visibilidade em cidades de menor dimensão dos territórios de baixa densidade, à medida que estas são reposicionadas na rede urbana com base em estratégias de culturalização, que valorizam as qualidades simbólicas dos espaços e criam condições para a (re)produção e consumo das suas ambiências. Integradas numa lógica de planeamento institucional da cidade, as estratégias de culturalização urbana tornam-se um pilar onde assentam projetos mais alargados de desenvolvimento social e económico. Destas estratégias fazem parte as intervenções artísticas temporárias que, ao intervirem no espaço público, interferem diretamente nos processos de produção de sentido e apontam para formas alternativas deorganização do espaço, das suas vivências, perceções e apropriações. Enquanto estratégia de culturalização, estas intervenções podem ser mobilizadas por agentes independentes do terceiro sector cultural, mas também por atores institucionais, como o poder público, assumindo relações de complementaridade ou de resistência. Partindo do caso específico do festival Jardins Efémeros, em Viseu, visto como um dispositivo decorrente e constituinte dos processos e tendências para a culturalização urbana, propomo-nos analisar os contornos de que se revestem estas estratégias nas cidades de média dimensão do interior. Ancorado numa análise de natureza qualitativa, o estudoexplora os modos como o festival incorpora e se relaciona com as diversas estratégias de culturalização identificadas na cidade de Viseu, os posicionamentos e discursos subjacentes à sua organização e programação e as modelações a que vão sendo sujeitos mediante as negociações que têm lugar no panorama cultural da cidade. Paralelamente, e usando o festival como lente, procuramos perceber como as estratégias de culturalização podem modelar os usos, perceções e significados atribuídos aos espaços, construindo dinâmicas de durabilidade, assentes na responsabilidade, reflexividade e amabilidade. Pretendemos demonstrar que não existe uma ideia homogénea de culturalização, estando a esta subjacentes diferentes discursos e intencionalidades, e que os seus dispositivos, embora concorram sempre para uma produção culturalizada do espaço, são mobilizados com recurso a lógicas justificativas distintas.

Framed in an economic system that privileges the production and consumption of experiences, the contemporary urban experience is an increasingly culturalized one. This tendency is particularly visible in small and medium sized cities of low-density territories, as they are repositioned in the urban network through culturalization strategies, which value the symbolic qualities of urban spaces and create the conditions for the (re)production andconsumption of their ambiences. Integrated in the institutional planning of the city, urban culturalization strategies become a pilar where broader social and economic development plans are anchored. Artistic temporary interventions are a part of these strategies which, by intervening in the public space, directly interfere with the processes of production of meaning and point to alternative ways of organizing space, its experience, its perceptions, and its appropriations. As a culturalization strategy, these nterventions can be mobilized by independent agents of the cultural sector, but also by institutional actors, such as the political powers,materializing relationships of complementarity or resistance. As a starting point, we look at the specific case of the festival Jardins Efémeros, in Viseu, both as an arising and contributing device towards the processes and tendencies of urban culturalization. We propose to analyze the outlines of these strategies in medium-sized cities of the interior. Through qualitative analysis, this study explores the ways in which the festival incorporates and relates to the various urban culturalization strategies identified in the city of Viseu, the underlying positionings and discourses of its organization and program and the modulations they are subjected to within thenegotiations that take place in the city’s cultural setting. At the same time, we use the festival as a lens in order to understand how urban culturalization strategies can modulate the uses, perceptions and meanings ascribed to urban spaces, thus building durability dynamics through vectors of responsibility, reflexivity and amiability. We intend to demonstrate that a homogenous notion of urban culturalization does not exist, as it is supported by different discourses and intentions, and that its devices, despite always contributing to a culturalized production of space, are mobilized through distinct justifications.