O escravo na Comédia Grega. História e Ficção

Abstract

A presente tese, intitulada O Escravo na Comédia Grega. História e Ficção, foi desenvolvida e realizada no âmbito do Curso de Doutoramento em Estudos Clássicos, ramo de Poética e Hermenêutica, especialidades de Literatura Grega e História Antiga. A figura do escravo tem suscitado, ao longo dos tempos, a atenção de vários domínios do saber. Na introdução, para além de sugeridas as questões de investigação que orientam o estudo apresentado, faz-se uma revisão da literatura dos trabalhos que, ilustrativos de áreas do conhecimento diversas e/ou afins, foram desenvolvidos sobre a escravatura na Grécia antiga.No Capítulo I, procede-se à contextualização histórica e às representações literárias da condição do escravo, desde os Poemas Homéricos até às produções cómicas dos séculos V e IV a.C. A perspetiva diacrónica que caracteriza esta primeira parte da tese permite a recolha de evidências importantes sobre o objeto do nosso estudo, não só para a identificação das origens, da inserção social e das tarefas executadas pelos escravos, mas também para a determinação dos tipos de relação humana que se criam entre senhores e servos. Apresentam-se, assim, elementos que serão recuperados e parodiados pelo teatro cómico.No Capítulo II, a investigação incide sobre a Comédia Antiga e tem na obra de Aristófanes e num corpus selecionado de fragmentos o suporte para a análise configuradora da personagem dramática do escravo. As potencialidades cómicas que o poeta reconhece nesta persona exigem uma atenção e um talento persistentes. A renovação de motivos desgastados da tradição e o cruzamento de tipos teatrais constituem as duas principais estratégias do comediógrafo da Archaia para dotar o escravo de uma personalidade dramática e de uma identidade cómica. A figura anónima que, numa fase primitiva da comédia, funcionava como uma espécie de adereço cénico ganha, com a produção aristofânica, voz e relevo na ação cómica. No Capítulo III, analisa-se o tratamento que a Comédia Nova, na figura de Menandro, dá ao escravo, tendo por base uma perspetiva comparativa com a Archaia. Considerando os pressupostos ideológicos pelos quais a Nea se pauta, a integração do doulos no quotidiano do oikos e a importância que lhe é dada em questões de natureza familiar mostram como se operou a reconfiguração do escravo da Comédia Antiga. O anonimato e a insignificância não lhe assistem, bem pelo contrário. O escravo da produção menandrina anuncia de certa forma o congénere que será considerado o rei da galeria das personagens do teatro plautino.No termo de cada capítulo ou secção são apresentadas notas finais, pelo que a conclusão geral destaca apenas os pontos elementares da investigação. A tese apresenta, ainda, um índice de autores antigos e a bibliografia, repartida por duas partes: a primeira diz respeito às edições, traduções e comentários utilizados e a segunda, aos estudos de referência consultados.

The thesis entitled The Slave in Greek Comedy. History and Fiction was developed and carried out during the Doctoral Course in Classical Studies, field of Poetics and Hermeneutics, specialisation in Greek Literature and Ancient History. Over the decades, the slave’s figure has attracted the attention of various areas of knowledge. In the thesis’ introduction, besides the questions that guided our research and the brief presentation of each chapter’s content, there is a literature review of works and studies that have been developed on the topic “Slavery in ancient Greece”.Chapter I focuses on the historical context and literary representations of the slave’s condition, from the Homeric Poems to the comic productions of the 5th and 4th centuries BC. The diachronic perspective adopted in this chapter allows us an important overview of the object of our study, not only by identifying the origins, the social condition and the tasks performed by slaves, but also by determining the types of relationship developed between masters and servants. These elements will be recreated and parodied by comic theatre.In Chapter II, the dominant topic concerns Ancient Comedy. By analysing and considering Aristophanes’ plays and a selected corpus of comic fragments, we present the configuration of the slave as a dramatic character. The comic potentialities recognized by the poet in this persona demands persistent attention and theatrical talent. That is why the Archaia’s comediographer works on the renewal of worn-out motifs from tradition and crosses dramatic types to endow the slave with a comic personality and identity. Taken as anonymous figures in a primitive phase of Greek comedy, as if they were a kind of scenic prop, slaves gain voice and relief in the comic action with the Aristophanes’ theatre.Chapter III is dedicated to the treatment that the slave receives in the New Comedy, particularly in Menander’s works and fragments, based on a comparative perspective with Archaia. Considering the ideological assumptions by which Nea is guided, the doulos’ integration in the oikos daily-life and the importance given to him in the family context show how the reconfiguration of the Old Comedy’s slave took place. Anonymity and insignificance do not assist him, quite the opposite. In several aspects, Menander’s slave announces the counterpart who will be considered the king of Plautus’ gallery of characters later on, in roman theatre.Final notes are presented at the end of each chapter or section, so the general conclusion only highlights the basic points of our investigation. There is also an index of ancient authors and bibliography, which is divided into two parts: the first concerns the editions, translations and commentaries used and the second, the consulted reference studies.