Sobre a expressão de ódio na Electra, de Eurípides: uma leitura crítica / On the expression of hatred in Euripides' Electra: a critical reading

Abstract

Na Electra de Eurípides, o matricídio converte-se, como já observou Pohlenz (1961), no evento trágico determinante da estrutura da peça, e o ethos da mítica filha de Agamémnon aparece provocatoriamente reconfigurado. O desejo de vingança da protagonista é nutrido pelo ódio profundo que expressa pela mãe e por Egisto, os responsáveis pelo homicídio do pai. Pretende-se, nesta leitura crítica da peça, analisar a expressão discursiva do sentimento de ódio que Electra nutre por Clitemnestra e Egisto, acicatando-lhe in extremis o desejo de vingança. A análise deste pathos que domina o caráter da protagonista, e que, curiosamente, conduz a um sentimento de arrependimento, no caso do matricídio, retoma a descrição aristotélica de orge e de misos, apresentada no Livro II da Retórica, e tem como principal referência teórica os estudos de David Konstan.

In Euripides' Electra, the matricide becomes, as Pohlenz (1961) has already observed, the determinant tragic event of the play's structure, and the ethos of the mythical daughter of Agamemnon appears provocatively reconfigured. The protagonist's desire for revenge is nourished by the deep hatred she expresses for her mother and for Aegisthus, those who are responsible for her father's murder. In this critical reading of the play, we intend to analyse the discursive expression of Electra's feelings of hatred for Clytemnestra and Aegisthus, which drive her desire for revenge in extremis. The analysis of this pathos that dominates the character of the protagonist, and that, curiously, leads to a feeling of regret, in the case of matricide, picks up the Aristotelian description of orge and misos, presented in Book II of Rhetoric, and has as main theoretical reference the studies of David Konstan.