Esse vaporoso fantasma, o nervoso. A doença mental feminina na obra de Júlio Dinis

Abstract

A obra de Júlio Dinis, pseudónimo literário do médico portuense Joaquim Guilherme Gomes Coelho (1839-1871), ainda que relativamente esquecida e secundarizada na cultura portuguesa, tem sido estudada sob várias perspectivas. No entanto, a presença e o papel das ideias médicas na construção das suas narrativas, no enfoque das temáticas, na caracterização das personagens e na utilização de determinado léxico, apenas tem ocupado um lugar pontual e acessório. Este trabalho procurará evidenciar a presença daquelas ideias no que toca à doença mental na mulher. As personagens femininas que revelam a presença de doença mental são personagens secundárias e em número reduzido. As personagens femininas que sofrem “desse vaporoso fantasma”, o nervoso, são Valentina (Uma Flor d’Entre o Gelo, 1864), Cecília (Uma Família Inglesa, 1865), Ermelinda (A Morgadinha dos Canaviais, 1867), Francisca e a mãe, D. Teresa, e ainda Margarida, uma das pupulas (As Pupilas do Senhor Reitor, 1867), Diana de Aveleda, pseudónimo/heterónimo sob o qual publicou cartas literárias no Jornal do Porto (Inéditos e Esparsos, 1909).

The work of Júlio Dinis (pseudonym of the Porto physician Joaquim Guilherme Gomes Coelho, 1839-1871), although relatively forgotten and undervalued in Portuguese literary culture, has been studied from many perspectives. However, the presence and the role of medical ideas on his narratives constructions, on themes explored, on the characters, and even on lexical utilizations, only occupied a punctual and accessory place. This article will try to highlight the influence of these ideas of mental illness in women. The female characters who reveal the presence of mental illness are few and minor ones. The female characters who suffer from "this vaporous ghost", the nervous, are Valentina (Uma Flor d’Entre o Gelo, 1864), Cecília (Uma Família Inglesa, 1865), Ermelinda (A Morgadinha dos Canaviais, 1867), Francisca and her mother, even Margarida one of the “pulilas” (As Pupilas do Senhor Reitor, 1867), Diana de Aveleda, pseudonym/heteronym with which he published “literary letters” in Jornal do Porto (Inéditos e Esparsos, 1909).