A "Ciencia dos Recursos Naturais" e a Reconversão da Economia: Zonas de Transacção e Objectos de Fronteira

Abstract

A passagem do ambiente e da "natureza" de "externalidades" a objectos legítimos da ciência económica está associada a um conjunto heterogéneo de estratégias de expansão, complexificação, transgressão ou reconstrução da disciplina, oscilando entre a protecção e afirmação do que é visto como o "núcleo duro" desta e a abertura a, e articulação com, outras disciplinas ou modos de conhecimento. A estratégia de reconstrução defendida, em particular, pela chamada economia ecológica tem conhecido alguns desenvolvimentos na direcção de uma convergência explícita dos saberes da economia, da ecologia e da termodinâmica e das tecnologias de gestão dos recursos naturais numa "ciência dos recursos naturais", como lhe chamaram José Manuel Naredo e Fernando Parra. A partir de um conjunto de perspectivas recentemente desenvolvidas pelos estudos sociais da ciência, procura-se, nesta comunicação, examinar a emergência de zonas de transacção (definição de temas e de problemas e organização de espaços permitindo a colaboração e interacção de uma diversidade de actores e de formas de conhecimento) e de objectos de fronteira (conceitos, objectos, linguagens, instrumentos de observação, de intervenção e de contabilidade flexíveis, reapropriáveis em contextos diversos e mantendo, ao mesmo tempo, a sua "identidade") como condições de negociação da legitimidade das novas configurações de saberes subsumidas no projecto de uma "ciência dos recursos naturais" e, simultaneamente, de viabilização da articulação dos novos domínios de investigação e de intervenção. Como alternativa à "ciência dos recursos naturais", é explorada, nesta perspectiva, a proposta de uma sócio-ecologia, avançada por Peter Taylor.