Santo de casa faz milagre: Desenho e representação dos oratórios populares domésticos em Feira de Santana

Abstract

Esta dissertação caracteriza-se pela investigação dos objetos religiosos denominados oratórios, de composição popular encontrados no ambiente doméstico de casas, chácaras, fazendas, antiquários e museus da cidade de Feira de Santana – BA. Neste estudo os oratórios são abordados quanto ao seu valor de cultura material, de memória visual e patrimônio cultural que emerge dos lugares onde se localizam. A escolha deste tema justifica-se pelos seguintes aspectos: percebemos a diminuição da ocorrência de capelas e “quartos de santo” nas casas contemporâneas. Isto pode ter correlação com a diminuição das residências e a impossibilidade da reserva de um espaço único para orações, conquanto, durante nossa pesquisa constou-se que, a conversão ao protestantismo é um dos motivos apontados como motivo para a venda ou descarte dos objetos ligados à cultura católica. Objetivou-se com este estudo traçar a vida no interior da Bahia, quanto ao exercício da prática religiosa, costumes, valores e organização perante o objeto, apreender sobre quais eram os sujeitos envolvidos nas práticas realizadas em torno do objeto, quais eram seus papéis sociais, como as relações interpessoais se davam e por fim, realizar análises quanto à sua estilística, fabricação e variedades devocionais. Para tal utilizou-se como metodologia geral deste estudo as teorias de análise da visualidade propostas por Michael Baxandall, através da realização de um percurso ao passado no intuito de investigar as circunstâncias em que o objeto foi produzido. Sobre este lócus de visão, um objeto representa mais que sua materialidade: neste contém não só a história do processo técnico e artístico de trabalho de quem o produziu, mas também a experiência de apropriação e recepção de informações que lhe chegaram e foram articuladas com sua cultura, memória e subjetividade. Assim, concluiu-se que os oratórios existem como uma solução à escassez de igrejas desde o período colonial e atualmente, face ao seu descarte, é possível encontrá-los inseridos no acervo de museus, ou vendidos em antiquários e sites na internet.