Wittgenstein’s Notion of Ethics

Abstract

O objetivo deste ensaio é esclarecer a noção de ética em Wittgenstein e como esta pode contribuir a traçar uma continuidade na sua filosofia. Apesar de poucos terem aceito o desafio de determinar um fio condutor os ligando, o consenso geral acerca da obra do Wittgenstein o divide em um primeiro e segundo período. Dos que o aceitaram, seus resultados levaram majoritariamente a ofuscar aspectos originais de um à custa do outro. A premissa do nosso inquérito é que a finalidade ética da filosofia de Wittgenstein permaneceu essencialmente a mesma ao longo da sua vida, e que, por isso, interpretar a sua obra (dos Cadernos 1914 – 1916 ao Da Certeza) através da lente da sua noção de ética, pode oferecer uma visão sinóptica e não-discriminatória dos seus textos. Caso estivermos certos, uma contribuição original será feita à leitura da sua filosofia. Uma leitura que evitaria postular antecipadamente uma discórdia interna ao seu pensar, priorizando o esforço de concebê-lo como coerente em seu desenvolvimento, e que, enfim, realçaria a vontade do nosso filosofo em contribuir à busca da boa vida. O trabalho é dividido em onze capítulos. Nos seis primeiros, o ensaio focalizará nos Cadernos e no Tractatus de Wittgenstein. Estes irão tratar dos conceitos de ‘Deus’, ‘sujeito volitivo’, ‘vida’, ‘mundo’, ‘bem’ e ‘mal’, e como se articulam com a noção de felicidade. A teoria pictórica da linguagem do Wittgenstein, e o problema do solipsismo também serão abordados. O sexto capitulo verá como o filosofo tractariano contribui à dimensão ética da vida.O sétimo capitulo examinará as razões pelas quais Wittgenstein acabou por abandonar a analise lógica e a teoria pictórica da linguagem, e introduzirá a sua — não tão nova — teoria do significado. Conceitos como ‘hábito’ e ‘regularidade’, ‘forma de vida’, ‘semelhanças de família’, e ‘jogos de linguagem’, serão discutidos pela primeira vez.Os capítulos seguintes se referem quase que exclusivamente aos escritos post-tractarianos do Wittgenstein. Estes irão tratar da sua crítica da ‘linguagem privada’, do seu conceito de ‘ver-como’, e examinar como o agente linguístico do dito segundo Wittgenstein não somente é transcendental como ele é volitivo. Enfim, o décimo primeiro capitulo irá discutir o papel ético do filosofo dos textos post-tractarianos, e como este permaneceu essencialmente o mesmo, distinguindo-se apenas pelos métodos adotados.O ensaio conclui que o Wittgenstein manteve ao longo da sua vida a convicção que, jogados na existência, o melhor que podemos fazer é tentar viver felizes — isto é, viver em acordo com nós mesmos et consequentemente com o mundo; e que a prática filosófica só deve ser valorizada enquanto terapêutica e contribuinte à busca da boa vida.

The aim of this paper is to clarify Wittgenstein’s notion of ethics, and explain how it can contribute to the understanding of the continuity of his philosophy. The broad consensus on Wittgenstein’s work divides it into an early and later period; however, few have undertaken the challenge of finding the linking thread between them. Of those who have, results have in general led to prioritising the original aspects of one in favour of the other. The premise of this study is that the ethical purpose of Wittgenstein’s philosophy remained essentially the same throughout his life. This means that interpretation of his work (from the Notebooks 1914 – 1916 to On Certainty) through the lens of his notion of ethics, may offer a synoptic, yet non-discriminatory view of his writings. If this is correct, it should lead to a fresh reading of Wittgenstein’s philosophy that avoids postulating in advance an internal discord in his thoughts and that prioritises its conception as coherent in its development. Finally, it also underscores Wittgenstein’s will in contributing to the pursuit of the “good” life.The work consists of eleven chapters. In the first six chapters, the paper focuses on Wittgenstein’s Notebooks and Tractatus. They will review the concepts of ‘God’, the ‘willing subject’, ‘life’, ‘world’, ‘good’ and ‘bad’, and their connection to the notion of happiness. Wittgenstein’s picture theory of language and the problem of solipsism are also addressed. The sixth chapter will look at how the Tractarian philosopher contributes to the ethical dimension of life.The seventh chapter will examine Wittgenstein’s reasons for abandoning logical analysis and the picture theory of language, and will introduce his — not entirely — new theory of meaning. Concepts such as ‘habit’ and ‘regularity’, ‘form of life’, ‘family resemblance’, and ‘language-games’, will be discussed for the first time.The following chapters refer almost exclusively to Wittgenstein’s post-Tractarian writings. They will address his critique of ‘private language’, his concept of ‘seeing-as’ and study how the linguistic agent of Wittgenstein’s late philosophy is not only transcendental, but also willing. Finally, the eleventh chapter will comment on the ethical role of the philosopher in Wittgenstein’s later writings and on how it remained essentially the same, only differing in the methods adopted.The paper concludes that Wittgenstein held the lifelong conviction that having been thrown into existence, the best thing we can do is to try to live happily — i.e. live in agreement with ourselves and hence with the world; and that philosophy is only worth practicing if it is therapeutic, and contributes to the struggle for a ‘good’ life.