Depressão perinatal : factores de risco e estratégias de prevenção

Abstract

A experiência da maternidade é vista, pela sociedade em geral, como um momento da vida da mulher que só contempla sentimentos positivos como alegria, satisfação e realização pessoal, contudo nem sempre é esta a realidade. Segundo estudos epidemiológicos, a depressão perinatal surge em 10 a 20% das mulheres, em que um número considerável já apresenta sintomatologia depressiva na gravidez prolongando-se este quadro até depois do parto, o que evidencia que a maioria das depressões pós-parto tem início durante a gestação. Existem factores de risco biológicos, psicossociais, demográficos, socioeconómicos e socioculturais. A depressão perinatal se não for detectada e tratada precocemente poderá ter implicações consideráveis no futuro da mulher, a nível físico, psicológico e social, com repercussões na sua relação com o filho, companheiro (que também ele pode deprimir) e restante família, e com o mundo do trabalho, entre outras. Estes dados alertam para a importância da intervenção precoce do Médico na prevenção primária, na identificação de factores de risco, através de instrumentos de rastreio e consequente implementação de estratégias eficazes e adaptadas a cada situação. Posto isto, várias questões se levantam: Como se caracteriza a depressão perinatal? Quais os factores de risco da depressão perinatal? Que estratégias poderão ser utilizadas pelo Médico de Família na prevenção da depressão perinatal? Fruto do exposto, são objectivos desta pesquisa: caracterizar a depressão perinatal; identificar os factores de risco da depressão perinatal; descrever estratégias de prevenção da depressão perinatal a implementar pelo Médico de Família. Para tal, recorreu-se à revisão sistemática de literatura de 61 artigos científicos retirados da PubMed e da Cochrane Library e de duas teses de Doutoramento, evidenciando assim o conhecimento já existente e a investigação que se está a desenvolver nesta área, no sentido de contribuir para a sensibilização da importância do Médico de Família em Cuidados de Saúde Primários na prevenção desta patologia. Os estudos existentes focam várias estratégias preventivas, de carácter farmacológico e não farmacológico, valorizam o acompanhamento sistemático em equipa multidisciplinar, privilegiando a educação para a saúde (relação mãe/filho, actividade física, estratégias promotoras de sono, aleitamento, planeamento familiar/saúde reprodutiva, apoio socio-familiar, entre outras), na instituição e no domicílio, à mulher/pai/família/comunidade. Evidenciou-se a necessidade de desenvolver estudos mais aprofundados neste âmbito, de forma a prevenir e tratar eficazmente esta perturbação de saúde

Maternity is an experience generally seen as a unique time in women’s lives, fulfilled with positive joyful feelings of self-satisfaction and personal achievement. But sometimes reality has a somber tone. As recent Epidemiology studies show, perinatal depression affects 10 to 20% of pregnant women with a significant number presenting depression symptoms already during pregnancy. This scenario tends to extend itself to post-delivery, highlighting that most post-partum depressions start back early during pregnancy. Risk factors have to be taken in consideration, namely biological, psychosocial, demographic, socioeconomic and sociocultural. If not detected and treated at an early stage perinatal depression can have considerable implications in women’s future, at physical, psychological and social levels, repercuting in the relationship with the child, the companion (also susceptible to depress) and remaining family, as well as at the work environment. This data alerts for the importance of early intervention by the family doctor within a primary prevention scope, identifying risk factors using means of early diagnose and implementing strategies adapted to each scenario. Within this framework, several questions need answer: How do we characterize perinatal depression? What are the perinatal depression risk factors? What strategies can the family doctor recur to prevent perinatal depression? Within this framework my research goals are: characterize perinatal depression; identify perinatal depression risk factors; describe perinatal depression prevention strategies to be implemented by the family doctor. For said purpose a comprehensive systematic revision of 61 scientifical articles from PubMed and Cochrane Library was done, as well as two doctoral theses, highlighting the existing body of knowledge and research being developed in this area, envisioning a contribution to educate in the Primary Healthcare Physician important role of the preventing said pathology. Current studies focus in different preventive strategies, recurring either to pharmacological or non-pharmacological approaches, valuing the systematic observation in multidisciplinary team, priming education for health (mother/child relation, physical activity, sleep promoting strategies, breast feeding, family planning, socio-family support, amongst others), either at an institutionalized or domiciliary environment, to mother/father, family, community. We highlighted the need to continue to develop deeper research in this area to prevent and treat with efficacy this health disturbs