Abnegação, espírito de sacrifício e compaixão: as questões de género na enfermagem em Portugal (2ª metade do século XIX e inícios do século XX)

Abstract

No discurso oitocentista e primonovecentista determinadas profissões inscrevem-se no prolongamento das “funções naturais da mulher”, maternais e domésticas, as quais implicam ajudar, cuidar e consolar os familiares e demais entes queridos, vindo a assumir o estatuto de trabalho feminino. É o caso da enfermagem que se converte em carreira feminina no decurso do Estado Novo (1933-1974), acompanhando a profissionalização do setor, a reestruturação do ensino da enfermagem, a necessidade de aumento de técnicos de saúde, o progressivo investimento na melhoria sanitária do país. Os pressupostos de género marcam o discurso ideológico da profissão e a representação da enfermeira, com impacto em discriminações e em restrições laborais bem como nos próprios conteúdos dos manuais de estudo, entre outras consequências que configuraram a profissão.

In the nineteenth and early twentieth centuries’ discourses, some professions were seen as an extension of a “woman’s natural duties”, both maternal and domestic, which entailed helping, taking care of, and consoling their families and loved ones. These professions gained the status of female labour. Such is the case of nursing, which became a female career during the Estado Novo regime (1933-1974), while that field professionalized, its teaching system was restructured, the need for more health professionals increased, and a progressive investment in sanitary conditions took place. Thus, gender assumptions influenced the ideological discourse of the profession as well as the representation of nurses, and had an impact on discrimination, labour restrictions, and handbook contents, among other consequences that shaped this profession.