Palavras amatórias e poesias luxuriosas: confissão e imoralidade no mundo luso-americano (1640-1750)

Abstract

Não obstante a jurisprudência em torno do delito de solicitação - solitatio ad turpia, ter sido firmada no transcorrer dos séculos XVI e XVII, ele era já um delito punível privativamente pelo Tribunal do Santo Ofício da Inquisição no período proposto para este estudo. Representava a profanação da confissão, um dos nervos disciplinares e confessionais da Igreja pós-tridentina, pelo que os seus obreiros eram encarados como suspeitos na fé. Este artigo pretende refletir acerca dos artifícios utilizados pelos párocos para levar a cabo os seus imorais intentos e a vigilância e repressão que lhes era movida pelas instâncias judiciais competentes na matéria. Recorrendo a documentação original, sobretudo a alguns escritos poéticos confiscados pelo Santo Ofício às vítimas e/ou cúmplices da solicitação, analisarei com mais minúcia, essas práticas delictivas que na metrópole e na colónia brasileira ocorriam com o recurso à palavra oral e escrita e o choque entre o sagrado e o profano que nesse momento ocorria.