“Cidadãos de bem” com armas: Representações sexuadas de violência armada, (in)segurança e legítima defesa no Brasil

Abstract

Este artigo procura examinar as estratégias discursivas utilizadas pelos movimentos a favor e contra o microdesarmamento no Brasil através da análise dos materiais de campanha das duas frentes no Referendo sobre a Proibição do Comércio de Armas de Fogo e Munições que teve lugar em outubro de 2005. A análise aponta para a utilização de representações e estratégias de mobilização do voto assentes em construções sexuadas das experiências e condutas de mulheres e de homens relativamente à probabilidade, lugares e protagonistas de vitimação armada, à conceção e ao exercício da legítima defesa enquanto direito do “cidadão de bem” e/ou privilégio. O estudo e a discussão destas representações são essenciais, uma vez que estas influenciam a forma como a violência e a (in)segurança é imaginada e percebida e, em especial a forma como, por sua vez, condicionam as políticas de combate e prevenção da violência.

This article examines the discursive strategies used by movements operating for and against micro‑disarmament in Brazil through the analysis of the campaign materials used by both sides in the referendum on the prohibition of sale of firearms and ammunition which took place in October 2005. It highlights the use of vote‑attracting strategies and representations based on sexualized constructions of the experiences and behavior of women and men relative to the probability, sites and protagonists of armed victimization, and the conception and exercise of legitimate defense as a right and/or privilege of the “good citizen”. These representations need to be studied and discussed as they influence the way violence and (in)security are imagined and perceived, which in turn conditions the policies designed to combat and prevent violence.

Cet article cherche à évaluer les stratégies discursives utilisées par les mouvements pro et contre le micro‑désarmement au Brésil par le biais de l’analyse des supports de campagnes des deux fronts lors du Referendum sur l’Interdiction du Commerce d’Armes à Feu et de Munitions, qui eut lieu en octobre 2005. L’analyse met en évidence l’utilisation de représentations et de stratégies de mobilisation du vote reposant sur des constructions sexuées des expériences et des conduites de femmes et d’hommes relativement à la probabilité, les lieux et les protagonistes de victimation armée, à la conception et à l’exercice de la légitime défense en tant que droit du ‘citoyen comme il faut’ et/ou privilège. L’étude et la discussion de ces représentations sont essentielles, puisqu’elles ont une influence directe sur la façon dont sont imaginées et perçues la violence et la (in)sécurité et, en particulier, dans la mesure où elles conditionnent les politiques de lutte et de prévention de la violence.