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Title: O jogo patológico em 3D: dimensões individual, conjugal e familiar
Authors: Cunha, Diana Guimarães Lopes 
Orientador: Relvas, Ana Paula
Keywords: Jogo Patológico
Issue Date: 16-Jun-2015
Citation: CUNHA, Diana Teresa Guimarães Lopes da - O jogo patológico em 3D : dimensões individual, conjugal e familiar. Coimbra : [s.n.], 2015. Tese de doutoramento. Disponível na WWW: http://hdl.handle.net/10316/28469
Abstract: Os jogos de sorte ou azar, ou seja, jogos em que o ganho/perda (habitualmente de dinheiro) depende do acaso, têm despertado interesse nas pessoas desde os tempos mais remotos e de forma transversal às diferentes épocas históricas e aos mais diversos contextos socioculturais. Para a maioria dos jogadores, constituem uma atividade recreativa/ social e completamente inócua. No entanto, uma minoria sofre um conjunto de consequências nefastas, decorrentes da prática de jogos de sorte ou azar, desde problemas financeiros, de saúde mental e física, a dificuldades familiares, laborais, passando a sua vida a ser controlada pelo jogo, desta forma, patológico. Obviamente, aqueles que são próximos do jogador patológico (e.g., familiares, amigos) também sofrem com os problemas do jogo, podendo desempenhar um papel importante na recuperação do problema, mas também na sua manutenção e até agravamento. Apesar da reconhecida recursividade entre o problema jogo e a esfera relacional interna e externa do jogador, o jogo patológico tem vindo a ser estudado, sobretudo numa perspetiva individual, atendendo a pressupostos lineares. Assim, contrariando esta tendência, este projeto pretende contribuir para o aumento do conhecimento científico sobre o jogo patológico. Recorre a uma perspetiva sistémica, com um pensamento navette entre os níveis familiar, conjugal e individual, através de uma investigação inovadora do ponto de vista da conceptualização do problema jogo (integradora e sistémica), privilegiando variáveis de cariz relacional (e.g., funcionamento familiar), mesmo quando representativas da esfera individual dos participantes (e.g., diferenciação do self). Desta forma, esta investigação pretende acrescentar cinco contributos principais à área de investigação sobre o jogo patológico: 1) alargar o conhecimento sobre os jogadores patológicos, atendendo a variáveis individuais xi (sintomatologia psicopatológica, congruência e diferenciação do self), conjugais (ajustamento diádico e satisfação conjugal) e familiares (qualidade de vida familiar e funcionamento familiar); 2) acrescentar as perspetivas de cônjuges de jogadores sobre os aspetos familiares e conjugais, confrontando-as e articulando-as com as perspetivas dos próprios jogadores; 3) promover uma leitura dos três níveis de variáveis referidos (individual, conjugal e familiar) em termos de risco/proteção; 4) desenvolver um modelo sistémico integrador compreensivo do jogo patológico, baseado na literatura e na evidência empírica decorrente dos estudos que integram esta investigação; e 5) disponibilizar pistas para a intervenção com os jogadores patológicos. Para tal, desenvolveram-se sete estudos principais – uma revisão da literatura, cinco quantitativos (N = 429) e um qualitativo (estudo de caso) - e dois estudos preliminares. A primeira fase da investigação consistiu numa cuidada revisão da literatura que deu origem à definição do modelo sistémico compreensivo do jogo patológico. A segunda etapa passou pela adaptação portuguesa de instrumentos de autorrelato que viriam a fazer parte do protocolo de investigação administrado (Escala de Congruência, Inventário de Qualidade de Vida Familiar). Por fim, realizaram-se os estudos quantitativos e qualitativos. Os três primeiros estudos quantitativos permitiram caracterizar os jogadores patológicos (caracterização de jogadores patológicos numa amostra comunitária por comparação com uma amostra de jogadores não patológicos; caracterização dos jogadores ao longo de um continuum de severidade, desde o jogador sem problemas ao jogador patológico; estudo de jogadores auto intitulados profissionais, comparando dois subgrupos - com patologia e sem patologia associada ao jogo). O estudo qualitativo e o quarto estudo quantitativo cruzaram a perspetiva de jogadores patológicos com a de cônjuges de jogadores patológicos. O último xii estudo quantitativo analisou os fatores de risco/proteção de novo ao longo do continuum de severidade distribuído por três grupos – jogadores sem problemas, jogadores com alguns problemas e jogadores patológicos. Posteriormente, com base nestes resultados, redefiniuse o modelo sistémico integrador compreensivo do jogo patológico e retiraram-se implicações para a intervenção com esta população. Para os estudos quantitativos, utilizou-se uma amostra probabilística de conveniência, recolhida através do método de recrutamento bola de neve (via online e presencial). Qualquer adulto (idade igual ou superior a 18 anos) podia participar, uma vez que a constituição dos diferentes subgrupos amostrais foi feita a posteriori. O casal que participou no estudo de caso qualitativo foi selecionado de forma diferente, a partir da sua participação num processo de terapia de casal, solicitado no âmbito do problema com o jogo. Na recolha da amostra foram respeitados os princípios e procedimentos éticos consignados pela American Psychological Association (2002). Os resultados do primeiro estudo quantitativo foram bastante surpreendentes, atendendo aos referenciais teóricos sobre o tema. Verificou-se que os jogadores patológicos não apresentavam mais dificuldades familiares e conjugais do que o grupo de comparação. Os estudos seguintes permitiram compreender estes resultados (aparentemente) desintegrados da literatura sobre o tema. Percebeu-se que os jogadores patológicos constituem um grupo heterogéneo e que as dificuldades familiares, conjugais e individuais surgem sobretudo em níveis mais severos de patologia de jogo, respeitando um continuum de gravidade no que respeita ao jogo patológico e às dificuldades que lhe estão associadas. A diversidade de jogadores patológicos é ainda complexificada pela constatação empírica de que uma minoria dos jogadores profissionais apresenta níveis de relação patológica com o jogo. Para além desta diversidade intragrupal, verificou-se, ainda, que os jogadores xiii patológicos relatam menos dificuldades familiares e conjugais do que os cônjuges de jogadores patológicos. A diferenciação do self e a sintomatologia psicopatológica, o sexo e a escolaridade parecem ser as variáveis com maior probabilidade de se associarem ao jogo patológico enquanto fatores de risco/proteção. Percebendo-se que o risco/proteção deriva de uma interação dinâmica entre estes aspetos e a gravidade de jogo. Com base na literatura sobre o tema e nestes resultados, desenvolveu-se o Modelo Sistémico Integrador do Jogo Patológico – Revisto (MSIJP-R) (uma vez que a primeira versão decorreu do estudo de revisão da literatura) que é composto por cinco níveis interdependentes. Mais especificamente, por dois níveis complementares, o contexto socioeconómico e o contexto relacional próximo com o problema jogo (que podem favorecer ou inibir as práticas de jogo a dinheiro e o envolvimento patológico na atividade), e três níveis principais, a família, o casal e o indivíduo. O nível da família remete para o funcionamento familiar, salientando aspetos como a gestão emocional, a confiança/segurança, a comunicação, o apoio e a nutrição emocional. Assim, o modelo sugere que as famílias com problemas de jogo tendem a apresentar algumas dificuldades relacionais. O nível da conjugalidade reúne um conjunto de problemas associados ao jogo patológico, nomeadamente em termos de ajustamento diádico e satisfação conjugal. Para além disso, destacam-se dificuldades de intimidade emocional (e.g., sofrimento psicológico, raiva, culpa, frustração, ressentimentos) e sexual (insatisfação sexual), de comunicação (e.g., mentiras, enganos, tentativas de ocultar ou reparar os danos causados pelo problema) e de exercício de controlo/poder (e.g., poder desequilibrado nas decisões familiares; tarefas domésticas pouco repartidas). A conjugalidade é marcada pela divergência de perspetivas entre jogadores patológicos (menos focados no défice) e cônjuges de jogadores patológicos (mais focados no défice). Por último, o nível individual xiv caracteriza-se por níveis inferiores de diferenciação do self e por níveis superiores de sintomatologia psicopatológica. O modelo integral apenas faz sentido ou é aplicável a jogadores que apresentam uma severidade de jogo superior/máxima. Portanto, pretende-se com este modelo fornecer uma ferramenta compreensiva, útil e flexível para os casos em que é aplicável. Ou seja, uma grelha de leitura possível, entre outras, com a possibilidade de ser utilizado de forma mais global, integrando todos os níveis, ou de forma mais parcial, focando apenas alguns deles. Desta investigação também resultaram algumas pistas de intervenção a considerar, tais como, a importância de desenvolver técnicas interventivas que tenham em consideração as diferenças individuais evidenciadas na apresentação clínica do caso; a utilização criativa e flexível dos protocolos de intervenção estandardizados; a aposta em intervenções individuais com uma elevada componente relacional, isto é, de natureza sistémica, considerando as especificidades do estádio de mudança em que o jogador se encontra. Nos casos em que a terapia de casal/familiar venha a ser a modalidade de apoio solicitada ou aconselhada, atendendo às diferenças de perspetiva entre jogador e cônjuge, pode ser muito importante dar especial atenção à neutralidade terapêutica e trabalhar a definição de objetivos terapêuticos comuns. Para além disso, dada a progressão silenciosa do problema, parece ser fundamental sensibilizar a população, em geral, e a comunidade jogadora, em particular, com especial atenção aos jogadores profissionais, apostando em campanhas de promoção de jogo responsável. Esta investigação apresenta diversas limitações, sendo as mais importantes o reduzido tamanho da amostra em alguns subgrupos amostrais e o facto de a heterogeneidade dos jogadores patológicos, tal como é apresentada neste trabalho, ter resultado, sobretudo, de uma análise descritiva dos resultados dos diferentes estudos. Não xv obstante, esta investigação produziu novos conhecimentos, nomeadamente no que respeita à caracterização integradora dos jogadores patológicos, incluindo a perspetiva dos cônjuges e uma compreensão dos fatores de risco/proteção. Permitiu, ainda, (re)conceptualizar uma grelha de leitura do problema jogo, o MSIJP-R, que contempla uma visão integradora e sistémica, também, por esse motivo, inovadora; e retirar implicações interventivas relevantes.
Gambling, in other words, games in which the gain/loss (usually money) depends on the chance, has increasingly attracted attention since ancient times and throughout different historical eras and sociocultural contexts. For most gamblers, it represents a recreational/social activity that is totally innocuous. However, a minority is affected by a number of adverse consequences that result from gambling, from financial, mental and physical health problems to family and work difficulties, with their life becoming controlled by gambling, thus, pathological. Obviously, those closest to the pathological gambler (e.g., family, friends) also are affected by gambling problems, having an important role in the recovery but also in the problem maintenance and worsening. The pathological gambler has been studied mainly through an individual perspective and accordingly to linear assumptions, although recognized the recursiveness between the gambling problem and the gambler internal and external sphere. So, going against this trend, this project aims to contribute to the scientific acknowledge about the pathological gamble. It is based on a systemic perspective, with a navette way of thinking between the family, marital and individual levels, through an innovator investigation from the gambling problem conceptualization (integrative and systemic) viewpoint, privileging relational variables (e.g., family functioning) even when these are representative of the participants individual sphere (e.g., self-differentiation). Thus, this study aims to add five essential contributes to the pathological gambling research: 1) expand the acknowledge about pathological gamblers, according to their individual (psychopathological symptoms, congruence and self-differentiation), marital (dyadic adjustment and marital satisfaction) and family (family quality of life and family functioning) variables; 2) add the gamblers’ spouses perspectives xvii about family and marital aspects, confronting and articulating these with the gamblers perspectives; 3) promote a comprehension of the referred variables’ three levels (individual, marital and familiar) with respect to risk/protection; 4) develop a comprehensive integrative systemic model of pathological gambling, based on the literature and scientific evidence presented in research studies in this area; 5) provide tracks to intervene with pathological gamblers. To that end, seven principal studies – a literature review, five quantitative studies (N = 429) and one qualitative study (case study) – and two preliminary studies were developed. The study first phase consisted on an accurate literature review that gave rise to the definition of the comprehensive systemic model of pathological gambling. The second stage was dedicated to the Portuguese validation of self-report measures that form the administered investigation protocol (Congruence Scale and Quality of Life). At last, quantitative and qualitative studies were developed. The first three quantitative studies allowed us to characterize the pathological gamblers (pathological gamblers characterization in a community sample, in comparison with a non-pathological gamblers sample; gamblers characterization across a severity continuum, from the gambler without problems to the pathological gambler; study of self-entitled professional gamblers comparing two subgroups: with and without gambling associated pathology). The qualitative study and fourth quantitative study crossed the pathological gamblers perspectives with the pathological gamblers spouse’s perspectives. The last quantitative study analyzed the risk/protection factors across a severity continnum, distributed by three groups – non-problem gambler, some problem gambler and pathological gamblers. Subsequently, on the basis of these results, we redefined the comprehensive integrative and xviii systemic model of pathological gambling and withdrawn implications for intervening with this specific population. For the quantitative studies, we used a probabilistic convenience sample, collected through snowball sampling (online and in person). Adults (aged 18 or over) were allowed to participate (quantitative studies) since the sample subgroups composition was prepared a posteriori. The couple that participated in the qualitative study was selected in a different way, specifically through their participation in couple systemic therapy, a therapeutic process centered in gambling problems. The sample collection considered the principles and ethical procedures of the American Psychological Association (2002). The first quantitative study results were surprising, considering the theoretical framework on gambling. Results indicated that pathological gamblers did not presented more family and marital difficulties than the comparison group. The following studies helped us to better understand these results (apparently) disintegrated from the literature in this area. We conclude that pathological gamblers represent a heterogeneous group and that the family, marital and individual difficulties emerge especially in severe levels of gambling, in accordance to a continuum of severity regarding pathological gambling and the associated difficulties. The pathological gamblers diversity is even more complex when we empirically confirm that a minority of professional gamblers presents pathological relation levels with gamble. Besides this intragroup diversity, we also observed that the pathological gamblers identify less family and marital difficulties than the pathological gamblers spouses. The self-differentiation and psychopathological symptoms, sex and education seem to be the variables that most associate with pathological gambling as factors of risk/protection. We also understood that the risk/protection derives from a dynamic interaction between these aspects and the gambling severity. xix Based on the literature about gambling and the presented results, we developed the Integrative Systemic Model of Pathological Gambling - Revised (ISMPG-R) (since the model first version emerged from the literature review), composed by five independent levels. Specifically, by two complementary levels, socioeconomic status and closest relational context with the gambling problem (that can promote or inhibit gambling actions and the pathological involvement in this activity), and three central levels, family, couple and individual. The family level refers to family functioning, highlighting aspects like emotional management, confidence/security, communication, support and emotional nutrition. Thus, this model suggests that families with gambling problems tend to present relational difficulties. The marital level gathers a range of problems associated with the pathological gambling, particularly regarding the dyadic adjustment and marital satisfaction. In addition, some emotional intimacy (e.g., psychological suffering, anger, guilt, frustration, resentments), sexual (sexual dissatisfaction) and communication difficulties (e.g., lies, cheating, attempts to conceal information or repair damages caused by the problem) are highlighted, as well as the exercise of power/control (e.g., unequal power in family decisions; household chores unbalanced division). The conjugality is marked by the disagreement between the pathological gamblers perspectives (less focused on the deficit) and the pathological gamblers perspectives (more focused on the deficit). Finally, the individual level is noticeable by lower levels of self-differentiation and higher levels of psychopathological symptoms. The complete model only makes sense or is applicable to gamblers that present a higher/maximum gambling severity. Therefore, with this model we intend to provide a comprehensive tool, useful and flexible for the applicable cases. That is, a possible reading grid, among others, that can be used more globally, including all levels, or more partially, focusing on particular levels. xx This investigations also provides promising interventions tracks as the importance of developing intervention techniques that contemplate the individual differences highlighted in the clinical case study, a creative and flexible use of the standardized intervention protocols, the investment on individual interventions with a high relational component, in other words, systemic, considering the specificities of the gambler change stage. In cases were family/marital therapy is requested or suggested as a support modality, and attending to the differences between gamblers and gamblers’ spouses perspectives, it may be very important to give special attention to the therapeutic neutrality and to work the common therapeutic goals definition. In addition, given the silent evolution of the problem, it seem to be essential to raise public awareness, in general, and the gamblers community, in particular, with special attention to the professional gamblers, focusing on responsible gambling campaigns. This investigation presents several limitations, the most important being the small sample size regarding some sample subgroups and the fact that the pathological gamblers heterogeneity, presented in this work, resulted, mainly, in descriptive analyses of the different studies. Nevertheless, this research study provides new acknowledge, namely, regarding the integrative description of the pathological gamblers, including the spouses perspectives and a comprehension of the risk/protection factors. It also affords the (re)conceptualization of a gambling reading grid, the MSIJP-R, that contemplates an integrative and systemic vision, for this reason innovative, and withdraws relevant intervention implications.
Description: Tese de doutoramento em Psicologia, na área de Psicologia Clínica, na especialidade de Psicologia da Família e Intervenção Familiar, apresentada à Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra
URI: https://hdl.handle.net/10316/28469
Rights: openAccess
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